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Comunicação com o idoso

Comunicar com “a pessoa idosa” não é muito diferente de comunicar com “a pessoa jovem”.

Apesar de ser inegável que, com o avançar da idade, ocorrem alterações ao nível sensorial e motor que podem comprometer a eficácia da comunicação, a população idosa está longe de ser homogénea.

De entre as alterações mais frequentes causadas pelo envelhecimento, podem assinalar-se a diminuição da acuidade auditiva e visual, a diminuição da força muscular, as alterações da função respiratória, a perda de dentes e as alterações na memória e na atenção, como potenciais fatores de comprometimento da eficácia da comunicação. Contudo, cada pessoa envelhece de maneira singular e o pior erro é generalizar.

Assim, assumir que comunicar com uma pessoa idosa será, à partida, mais difícil, baseando-se apenas no fator idade, constitui um preconceito, que é importante desconstruir. A este tipo de preconceito, baseado na idade, chamamos idadismo (=ageism,na língua inglesa; para saber mais: stopidadismo.pt) e está mais presente na nossa cultura do que gostaríamos.

De facto, a comunicação, em qualquer que seja a idade, é um processo complexo, que exige um verdadeiro envolvimento entre os interlocutores.

É comum pensar-se que o aspeto mais importante da comunicação é a mensagem verbal (as palavras). Contudo, é seguro dizer que a essência da comunicação é revelada pela componente não-verbal da linguagem. Isto é, a mensagem que transmitimos é mais influenciada pela nossa postura corporal, pelos gestos, pelo contacto visual, ou pela sua ausência, pelo tom de voz que usamos e pela disponibilidade que demonstramos, do que pelas palavras que escolhemos.

Outra premissa comum e não menos errada é a de que comunicar significa falar. Em todo o processo de comunicação, escutar pode ser tão ou mais importante do que falar. Neste sentido, em muitas situações, comunicar eficazmente pode passar, sobretudo, por “estar presente” e escutar ativamente.

Assim, parece que a chave para uma comunicação eficaz reside, principalmente, na relação que se estabelece e na empatia que se tem para com o outro. A mesma empatia que permite estar atento a si e ao outro, às necessidades de ambos e às suas capacidades. Esta comunicação “centrada na pessoa” será tão mais eficaz, quanto maior a entrega e o envolvimento dos interlocutores.

No decorrer dos nossos dias, nem sempre é fácil dedicar todo este empenho a cada oportunidade comunicativa. Contudo, vale a pena tentar!

Autora
Joana Santos

Terapeuta da Fala, com mestrado na mesma área e especializações em perturbações neurológicas no adulto, ao nível da comunicação e da deglutição. Atualmente, exerce a sua profissão no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Universidade de Coimbra e é estudante do curso de doutoramento em Gerontologia e Geriatria da Universidade de Aveiro e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

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Atlas 2021 : um balanço e muitos agradecimentos

O ano de 2021, após dois anos do início da pandemia, foi ainda um ano de sorrisos tapados por máscaras, de álcool gel abundante e de contactos distanciados a que a COVID nos obrigou. Mas não foi um ano parco de afetos, nem de energia para continuar na senda das nossas causas.

 Ao longo do ano contámos com a ação e compromisso de 345 voluntários/as, que levaram um total de 7014 refeições quentes e nutritivas, confecionadas e cedidas por 70 Restaurantes Solidários e pelos próprios voluntários, quando tal foi necessário. Assim, todos os sábados do ano, os 83 beneficiários dos VELHOS AMIGOS tiveram refeições quentes e afeto e alguns minutos de conversa.

Foi ampliada a área de intervenção dos “Velhos Amigos” para um novo território: Batalha. Neste Município imerso em História e solidariedade, conhecemos 2 “Velhos Amigos” e 8 voluntários determinados a fazer a diferença.

A Inovação Tecnológica, a nova roupagem no Projeto Velhos Amigos , num cofinanciamento do programa POISE, numa iniciativa Portugal Inovação Social, continuou a aproximar os idosos da tecnologia, por via da atribuição de um dispositivo de georreferenciação e de uma plataforma de treino cognitivo e socialização. O financiamento permitiu a aquisição dos equipamentos, a contratualização de um serviço de teleassistência e de internet que se destinam a 90 idosos/as com vivência em isolamento social e vulnerabilidade económica.

No Projeto Escolas Solidárias, manteve-se a parceria da ATLAS com os dois Agrupamentos de Escolas da Marinha Grande e foram entregues, ao longo do ano de 2021, 202 cabazes, compostos por artigos alimentares e bens de higiene.

O ano de 2021 foi intensamente marcado pelas intervenções nas condições habitacionais dos idosos apoiados pela ATLAS, com o Projeto Amigos em Casa, um Prémio da Candidatura VINCI, que pretende fazer a recuperação de espaçoshabitacionais degradados ou inacabados de idosos que vivem em situação de Isolamento Social e Carência Económica, através da mobilização da sociedade civil, entidades privadas e públicas.

A nível organizacional, com o apoio da Fidelidade Comunidade, consolidámos o investimento iniciado em 2019, na comunicação interna e externa a ATLAS, com grafismos e logótipos, um website renovado, o envio de uma Newsletter mensal para os voluntários e trimestral para os parceiros, bem como uma loja online. Foi ainda elaborado o Plano Estratégico da ATLAS 2021-2024 , o Manual de Funções e o Modelo de Avaliação de Impacto..

Em 2021 foram produzidos e partilhados 43 artigos, graças a variados contributos, nomeadamente os abaixo designados, a quem a ATLAS agradece:

  • Ana Rita Vieira
  • Carolina Antunes
  • Catarina Fortunato
  • Celina Gameiro
  • Cidália Carvalheiro
  • Cláudia Marinho
  • Deolinda Ferreira
  • Elisabeth Guerra
  • Fernanda Castela
  • Helena de Jesus
  • Helena Vasconcelos
  • Hélia Amado
  • Irene Primitivo
  • Isabel Guimarães
  • Joana Caetano
  • Maria Fernanda Alegre
  • Maria João Santos
  • Nicole Bohórquez
  • Rui Bingre
  • Rui Lopes
  • Sílvia Marquês
  • Sofia Carruço

Encerrámos 2021 com alguns desafios na gestão de Recursos Humanos da Atlas, mas com uma enorme expetativa no ano de 2022 para prosseguir com as nossas causas.

Obrigada a todos/as por fazerem crescer a ATLAS.

Autor
Irene Primitivo

Voluntária da ATLAS. 

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“Uma leitura, uma partilha de opinião”

Este é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!

A longa caminhada, Slavomir Rawicz

Estalou uma guerra aqui há dias. Uma guerra mesmo. A Rússia invadiu a vizinha Ucrânia. Esta é a nossa nova realidade, quer queiramos quer não. É claro que não queremos porque os que sofrem as consequências das guerras são os que nada têm que ver com elas: jovens, idosos, mulheres, crianças… Espero que se escreva pouco sobre esta guerra. Seria um bom sinal. 

Já a história da Longa Caminhada passa-se noutra guerra: Numa Grande Guerra: a da Segunda Guerra Mundial. Centra-se na divisão da Polónia entre a Alemanha e a então URSS e a captura de um oficial polaco pelo exército vermelho em 1939. Após a sua captura terá de passar por várias sessões de tortura, às quais resistiu, apesar de ser sempre persuadido pelo exército russo a fazer-se de culpado, assinando todos os papéis que lhe eram apresentados. Recusou sempre apesar das sessões de tortura, mas a certa altura apresentaram-lhe um papel assinado que o culpabilizou e que o condenou a 25 anos de trabalhos forçados. Slavomir Rawicz achou que sempre seria melhor do que uma cela.

A primeira viagem fez-se de comboio, pela linha transiberiana em condições infelizmente já muito retratadas em filmes como A Vida é Bela ou A Lista de Schindler. Os prisioneiros passageiros iam completamente colados entre si, quase sem poder respirar. Não tinham como aliviar-se, a não ser ali mesmo. Gritavam por água e muitos desmaiavam.

Depois do comboio seguiu-se o camião que rasgava por entre a neve.

Nos campos, os guardas aguardavam qualquer possibilidade de fuga para atirar a matar, mas foi isso mesmo que Rawicz e um grupo de seis tratou de organizar. Conseguiram fugir um ano após a sua captura, levando consigo pouco mais do que a sua roupa e a certeza de que não estariam em segurança enquanto estivessem em território russo. Rumaram à Índia britânica, mas tiveram de enfrentar as regiões inóspitas do Tibete e da Mongólia.

A caminhada foi feita em condições adversas. Foi longa e árdua e só a esperança e também o desespero os acompanhavam. Na Mongólia enfrentaram uma praga de gafanhotos. No Tibete montanhoso e gelado perderam um dos companheiros, o lituano.

Só cinco chegaram à Índia. Viajar para eles era uma verdadeira obsessão. Caminhar só podia ter fim quando encontrassem segurança. Na índia, foram restituídos aos seus respetivos países de origem.

Esta é uma história de coragem e de determinação assim como de trabalho de equipa que serve de testemunho de um dos períodos mais marcantes da história.


Autor
Celina da Costa Gameiro

Voluntária ATLAS, no projeto Velhos Amigos em Pombal

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José Saramago, Todos os Nomes

Todos nós temos um nome. Um nome próprio. Um nome de família. Por vezes, uma alcunha, ou um nome ternurento trocado na intimidade. Também acontece haver nomes com estatuto: o senhor comendador, o senhor reitor, o senhor capitão ou o senhor conservador. Este último representa a grande teia urdida em volta de várias ligações que se estabelecem na Conservatória do Registo Civil. E é lá que se assentam todos os nomes: os dos vivos e os dos mortos. Nesta história havia um senhor José, mas não era o conservador. Era apenas um auxiliar de escrita, mas uma vez cometeu a proeza de se sentar no lugar do conservador, na sua cadeira, mas à noite, no escuro. O senhor José como auxiliar era aquele que apontava todos os nomes e o senhor conservador, sentado na sua cadeira, era aquele que não fazia nada e, por isso, era uma pessoa muito só. O senhor José, um dia, lembrou-se que haveria de descobrir todas as informações relacionadas com as pessoas famosas cujas vidas gostava de colecionar e iniciou um passatempo. Era um passatempo noturno. Durante o dia continuava auxiliar de escrita, mas durante a noite, pegava na chave velha, abria a porta que rangia e transformava-se num perspicaz investigador capaz de folhear, de abrir todo o tipo de gavetas proibidas, de sacudir a poeira a livros pouco arejados, descobrindo assim onde estão o registo dos vivos e os dos mortos. Para ele, a maior gulodice era poder penetrar na Conservatória e esventrar os livros porque o “que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca e é preciso andar muito para alcançar o que está perto.”

Mas nesta busca havia o medo. Por vezes o terror. E se fosse descoberto? E se o apanhassem com os livros nas mãos? Tinha medo da noite e do silêncio, mas ainda mais de qualquer ruído. Qualquer ruído podia fazê-lo saltar de uma cadeira. Também tinha vergonha e pesadelos, mas curiosamente sorria após os seus pesadelos.

Havia o caso de uma senhora que parecia ter ganho vida pelas palavras que 36 anos antes lhe tinham atribuído: “um nome, o nome dos pais, o nome do padrinho, a data e a hora do seu nascimento, a rua, o nº e o andar onde viu a primeira luz e sentiu a primeira dor, um princípio como toda a gente.”

E é assim que muita gente ganha vida, com as palavras dos outros, porque nós próprios demoramos muito a aprender e a conhecer as nossas próprias palavras.    


Autor
Celina da Costa Gameiro

Voluntária ATLAS, no projeto Velhos Amigos em Pombal

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De Coração Cheio

No Projeto Velhos Amigos, todos os sábados, acontece um momento mágico no qual se espalha Alegria e Amor. Quando acontece cada encontro, há saudações alegres que ecoam, olhos que se cruzam, refeições que se doam e um tempo que se entrega de forma desinteressada ao outro. No meio das rotinas diárias, das regras sanitárias que nos afastam já há tantos meses, o investimento Humano, a grande riqueza destes tempos é Escutar!  Esta é a grande arma de combate contra a solidão e a indiferença.

Este é o sentimento que vivenciamos pela Vila da Batalha, vamos e o mais importante, é Escutar. O testemunho de quem faz a magia, os nossos Voluntários nos Velhos Amigos na Batalha:

Sempre gostei de ajudar, quando recebi o convite para fazer parte do grupo de voluntários da Atlas fiquei muito agradecida. São 2 horas de companhia, partilha de experiências de vida, e ainda uma refeição quentinha para aconchegar os nossos amigos.

E, eu sou uma sortuda por fazer parte deste grupo solidário Atlas.”

Alexandrina Henriques

“Uma experiência fantástica, sempre foi algo que quis fazer, estou muito feliz por a Atlas me ter dado está oportunidade, com os nossos velhinhos tenho aprendido muito… adoro fazer isto…. adoro ajudar… estou de coração cheio… sinto muito orgulho no que faço! OBRIGADA ATLAS!”

Catarina Teixeira

“Ajudar os outros… Ir com o Coração Cheio. No fim ficas com o Coração a transbordar….”

João Toscano

“Seja qual for o caminho que tu escolhas para a tua vida, tens de arranjar sempre tempo de devolver, seja á tua comunidade, seja á tua freguesia ou até ao teu país!” Ajudar outras pessoas dá-me uma grande satisfação, muito mais satisfação que outra coisa supérflua eu possa fazer ou adquirir… Muito obrigado por me receberem na Atlas!”

Rolando de Jesus

Mas para mim a vida só faz sentido assim, saber que a minha presença pode fazer a diferença na vida destas pessoas. Levar um sorriso e trazer um coração cheio…”

 Susana Guerra


Autor
Elizabeth Guerra

Voluntária ATLAS. Coordenadora do Projeto Velhos Amigos na Batalha

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Solidão

“Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitámos tão pouco.”  Mia Couto

Eis-me aqui, na curva descendente da vida. Passos trôpegos, olho pela janela. O sol estende o seu manto alaranjado, até se esconder para lá do horizonte.

Deixo-me levar até onde a minha memória alcança. Eu pequenina, o mundo eram as ruas da minha aldeia. As estações do ano sucediam-se. Noites de verão em que se contavam estrelas, ouviam-se grilos, andava de bicicleta com a minha irmã, brincava no pátio da escola com as amigas e amigos e chapinhava nas poças da chuva. Lembro-me de procurar os braços da minha mãe nas noites de trovoada. Lembro-me da água gelada no tanque da roupa. Lembro-me, com saudade, da minha família, das pessoas que a vida trouxe e levou. Meu porto seguro. Cartas longas que se escreviam e raras chamadas telefónicas. Um passado cheio de gente, de afetos, dores e saudades.

Cheguei aqui. Pelo caminho houve de tudo. Vitórias, derrotas, aprendizagens. A voragem dos dias a apoderar-se de mim, de quem me rodeava. Planos de vida que se iam sucessivamente adiando. Um amanhã sempre a escapar-se entre os dedos. A família que me resta, telefona-me espaçadamente. Tempo, a eterna desculpa. Os amigos de uma vida foram ficando lá atrás. Os que ainda por cá andam, reféns dos seus passos, aparecem cada vez menos. Deixo de conhecer os meus vizinhos. Eles também não sabem quem eu sou. Talvez nem saibam que eu existo. A porta de minha casa já raramente se abre. A campainha está muda, já não anuncia a chegada de ninguém.

Os meus dias sucedem-se iguais. Tenho os meus gatos e os meus livros. Mas os meus olhos cansam-se rapidamente. Ligo a televisão e ali fico estática, esquecida, perdida no vazio. Recentemente algo começou a mudar. A esperança e a alegria começam a abrir caminho na minha vida. Há pessoas boas, empenhadas em dar algo de si, em derrotar a solidão de quem está só. De quem se sente só. A Dora procura saber como me sinto. Senta-se junto a mim e conversa. Conta como vai o mundo, fala de coisas do dia-a-dia. Fico feliz quando ela abre um livro e lê para mim. Fecho os olhos, deixo-me transportar.  Sinto o calor do sol a bater na minha janela, os gatos enroscados aos meus pés e, nestes momentos, tudo me faz sentido. Gratidão


Autor
Élia Vala

Mãe e avó. Assistente comercial numa instituição financeira. Gosta de pessoas, livros e natureza. Angustia-se com o sofrimento humano, em particular de crianças e idosos. Conhece o admirável trabalho da Atlas pela mão da sua amiga Dora Rodrigues. 

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De Coração Cheio

No Projeto Velhos Amigos, todos os sábados, acontece um momento mágico no qual se espalha Alegria e Amor. Quando acontece cada encontro, há saudações alegres que ecoam, olhos que se cruzam, refeições que se doam e um tempo que se entrega de forma desinteressada ao outro. No meio das rotinas diárias, das regras sanitárias que nos afastam já há tantos meses, o investimento Humano, a grande riqueza destes tempos é Escutar!  Esta é a grande arma de combate contra a solidão e a indiferença.

Este é o sentimento que vivenciamos pela Vila da Batalha, vamos e o mais importante, é Escutar. O testemunho de quem faz a magia, os nossos Voluntários nos Velhos Amigos na Batalha:

Sempre gostei de ajudar, quando recebi o convite para fazer parte do grupo de voluntários da Atlas fiquei muito agradecida. São 2 horas de companhia, partilha de experiências de vida, e ainda uma refeição quentinha para aconchegar os nossos amigos.

E, eu sou uma sortuda por fazer parte deste grupo solidário Atlas.”

Alexandrina Henriques

“Uma experiência fantástica, sempre foi algo que quis fazer, estou muito feliz por a Atlas me ter dado está oportunidade, com os nossos velhinhos tenho aprendido muito… adoro fazer isto…. adoro ajudar… estou de coração cheio… sinto muito orgulho no que faço! OBRIGADA ATLAS!”

Catarina Teixeira

“Ajudar os outros… Ir com o Coração Cheio. No fim ficas com o Coração a transbordar….”

João Toscano

“Seja qual for o caminho que tu escolhas para a tua vida, tens de arranjar sempre tempo de devolver, seja á tua comunidade, seja á tua freguesia ou até ao teu país!” Ajudar outras pessoas dá-me uma grande satisfação, muito mais satisfação que outra coisa supérflua eu possa fazer ou adquirir… Muito obrigado por me receberem na Atlas!”

Rolando de Jesus

Mas para mim a vida só faz sentido assim, saber que a minha presença pode fazer a diferença na vida destas pessoas. Levar um sorriso e trazer um coração cheio…”

 Susana Guerra


Autor
Elizabeth Guerra

Voluntária ATLAS. Coordenadora do Projeto Velhos Amigos na Batalha

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Janeiro!

Aos primeiros minutos do mês e do novo ano ocorre-me sempre a frase: Mais 365 oportunidades para ser feliz! Lá por ser umafrase feita” não é desprovida de sentido, para mim. O que acontece é que utilizar cada dia do novo ano para experimentar ser feliz dá trabalho!

Sim, sim, é trabalhoso, é um trabalho “interno” esse de não me deixar ir no frenesim de cada dia, esse de criar algo positivo, estimulante, ainda que esteja a percorrer o mesmo caminho para o trabalho ou a fazer as tarefas rotineiras. Mas… caramba! Se é para a minha felicidade, arregaço as mangas para esse “trabalho”!

E começo logo por tentar perceber do que ando à procura, ou seja, como se concretiza a felicidade para mim? Em cada dia não é algo magnânimo que eu espero que aconteça, é algo mais realista, é sentir alegria, satisfação, bem-estar. E, sendo assim, o meu trabalho é lembrar-me de fazer algo que acrescente alegria ao meu dia e isso pode mesmo estar em detalhes, quando têm significado positivo, para mim. Então, aprecio a energia do sol a subir no céu, enquanto conduzo, logo de manhã; ou reparo nas formas que as nuvens fazem; canto a música que passa no rádio e rio com as piadas do locutor (sem pudor do automobilista que vai à minha frente) e se o trânsito estiver mais lento, até tenho oportunidade de ouvir mais música (claro, não vou estragar aqui o fluxo desta boa energia com o stresse de chegar atrasada, saio de casa com um pouquinho de margem no tempo)…

É apenas o início do dia, mas este estado de espírito vai abrir caminho para o que vem a seguir correr melhor, vai até fazer de “escudo” para o humor carrancudo de algum colega. Quando escolho comportamentos de bem-estar (fazer algo que me dá boas sensações), isso manifesta-se no meu corpo (sinto tranquilidade, por exemplo, os batimentos do coração serão estáveis) e esse bem-estar também alcança a minha forma de lidar com as situações, pensando acerca delas de forma mais construtiva (mais focada no que posso fazer para resolver certa questão, em vez de apenas reclamar ou achar impossível algo ser feito).

A felicidade, num grande momento ou nos pequenos prazeres de cada dia, pode mesmo ajudar esta engrenagem a funcionar!

A energia dos equipamentos tecnológicos é elétrica e a energia de cada pessoa vem desta “bateria” de momentos bons, coisas alegres, afetos positivos, experiências agradáveis. Esta “bateria” vai dar-nos força para lidar com as situações de vida menos boas, elas existem e precisamos estar “recarregados” quando surgirem.


Autor
Sofia Carruço

Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria

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Envelhecer de uma forma mais agradável

Este é o resumo de um trabalho que preparei para um grupo de jovens. Quando mo pediram achei descabido falar de envelhecimento a jovens, mas pensando melhor não é tão descabido como possa parecer. A velhice começa a preparar-se muito cedo.

Eu própria a fui preparando, sem me aperceber. Mas agora, olhando para trás, vejo que se não tivesse assentado a minha vida em três valores que considero essenciais não teria hoje nada de positivo para transmitir aos mais novos. 

 E quais são esses valores?

1 – Ter objectivos e lutar por eles 

2 – Não virar as costas às dificuldades

3 – Responder aos desafios.

Permitam-me que refira alguns exemplos:

1 — Estudamos porque queremos tirar um curso onde nos sintamos realizados e que nos dê uma certa estabilidade financeira e emocional.

2 — Casar e ter filhos. Não é nada fácil conciliar a vida profissional com a vida familiar. (Cheguei a ter cinco homens à minha responsabilidade numa altura em que os homens não colaboravam nas tarefas domésticas).

3 — Quando me aposentei não parei. Comecei por colaborar em movimentos da Igreja. Além de outras actividades fui catequista. Do grupo de Catequese nasceu um grupo de Jovens que me proporcionaram momentos incríveis (encontros com outros grupos, viagens, convívios) Aqui os mais novos ficam a saber como podem ajudar os mais velhos a envelhecer de uma forma bem agradável.

Fiz parte de um grupo sócio caritativo onde me senti totalmente realizada (contribuir para que alguém possa ser um pouco mais feliz) Paralela e individualmente estava atenta e ajudava quem precisava da minha ajuda. 

Participei na Política. Aí não era bem a «a minha praia», mas, por insistência de terceiros, fiz parte dos Órgãos Políticos de um partido e fui candidata a uma Junta de Freguesia.

Mais tarde matriculei-me numa Universidade Sénior e, com mais de 70 anos, iniciei-me nas novas tecnologias. Convivi, fiz novos Amigos, obrigava-me a sair de casa. Ainda me mantenho na hidroginástica. Faz bem ao corpo e à mente.  Concluo partilhando com os leitores a convicção de que para envelhecer de uma forma mais agradável não podemos parar nem ter uma vida facilitada. Antes, pelo contrário, vamo-nos treinando para vencermos as dificuldades que a vida nos vai apresentando e enfrentarmos todos os desafios.


Autor
Maria Fernanda Alegre

Nasceu em 6 de julho de 1933, no concelho de Condeixa-a-Nova. Fez o curso no magistério primário. É viúva, tem 3 filhos e 2 netos. Depois de se reformar, tem-se dedicado ao voluntariado.

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Um país onde as crianças não choram

Em São Tomé e Príncipe as crianças não choram. Não podem chorar. As mães precisam de realizar todas as tarefas diárias e não há tempo para embalar ou esperar que uma simples cólica infantil, ou até mesmo uma birra, passem. Desde o nascimento, as crianças são transportadas às costas pelas mães, mulheres lutadoras que executam todas as tarefas na companhia dos filhos. Seja na rua a vender peixe, a vender carregamentos de telemóvel, no rio a lavar a roupa, em casa a confecionar os alimentos ou até na escola, a guerreira mulher santomense faz-se acompanhar do filho bebé atado a si por um pano resistente e colorido que, miraculosamente, o mantém em segurança. E a criança não chora. Dorme no aconchego do calor corporal materno, mantém-se em paz no embalo dos passos da mãe.

Num país onde as condições de vida ficam aquém do que a Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza, as crianças não choram. E a infância em São Tomé e Príncipe não é a infância que hoje valorizamos e respeitamos. Não há jogos nem brinquedos. Em seu lugar, os saltos na praia, a corrida a equilibrar um pneu com um pau ou a brincadeira com um carrinho feito com madeira, latas ou garrafas de plástico ocupam o tempo das crianças. Mas elas não choram. Aceitam. Vão vivendo. E esperando. Talvez esperem que, um dia, os seus direitos venham a ser os mesmos dos meninos da Europa ou da América. Talvez esperem que o seu futuro possa vir a ser risonho apesar de o seu país não ter emprego para todos. Talvez esperem só por esperar. E vão vivendo. Felizes.


Autor
Helena Jesus
Voluntário da ATLAS

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