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Um país onde as crianças não choram


Em São Tomé e Príncipe as crianças não choram. Não podem chorar. As mães precisam de realizar todas as tarefas diárias e não há tempo para embalar ou esperar que uma simples cólica infantil, ou até mesmo uma birra, passem. Desde o nascimento, as crianças são transportadas às costas pelas mães, mulheres lutadoras que executam todas as tarefas na companhia dos filhos. Seja na rua a vender peixe, a vender carregamentos de telemóvel, no rio a lavar a roupa, em casa a confecionar os alimentos ou até na escola, a guerreira mulher santomense faz-se acompanhar do filho bebé atado a si por um pano resistente e colorido que, miraculosamente, o mantém em segurança. E a criança não chora. Dorme no aconchego do calor corporal materno, mantém-se em paz no embalo dos passos da mãe.

Num país onde as condições de vida ficam aquém do que a Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza, as crianças não choram. E a infância em São Tomé e Príncipe não é a infância que hoje valorizamos e respeitamos. Não há jogos nem brinquedos. Em seu lugar, os saltos na praia, a corrida a equilibrar um pneu com um pau ou a brincadeira com um carrinho feito com madeira, latas ou garrafas de plástico ocupam o tempo das crianças. Mas elas não choram. Aceitam. Vão vivendo. E esperando. Talvez esperem que, um dia, os seus direitos venham a ser os mesmos dos meninos da Europa ou da América. Talvez esperem que o seu futuro possa vir a ser risonho apesar de o seu país não ter emprego para todos. Talvez esperem só por esperar. E vão vivendo. Felizes.


Autor
Helena Jesus
Voluntário da ATLAS

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