Envelhecimento é um processo que dura toda a vida e não uma fase ou uma etapa.
O autoconceito é a perceção que o individuo tem de si. É o que cada um pensa e conhece de si.
O envelhecimento como a autoestima são conceitos que fazem parte do processo desenvolvimental. Não existe uma autoestima para a fase da adultez avançada existe só autoestima e existem adultos.
Começando por esclarecer a noção de autoconceito.
O autoconceitopode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos que se referem ao self enquanto objeto. Não é necessariamente uma visão “objetiva” do que somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal como nos percecionamos. O autoconceito está associado à noção de autoestima. Autoestima é o grau com que o sujeito gosta de ser como é. “A autoestima corresponde aos aspetos avaliativos e emocionais do indivíduo” (Fachada, 2006, p. 123). Então estes dois conceitos, autoestima e autoconceitos, ou seja, o quanto gosto de mim e o que perceciono que sou, revelam-se fundamentais para a definição do nosso comportamento. Então, adultos com elevada autoestima são sociáveis e populares com os outros, confiam mais nas suas próprias opiniões e julgamentos e estão mais seguras das perceções de si próprios. Quando avaliados a nível psicológico são pessoas mais saudáveis e mais adaptadas e sofrem menos de stress quando confrontados com situações de ansiedade, perda, etc. Contrariamente pessoas com baixa autoestima são pessoas infelizes e vêem-se como fracassadas. Abandonam facilmente os desafios, são pessoas ansiosas e com forte sentimento de culpa e são consideradas por si mesmas como incompetentes.
Este processo de definição do que sou e do quanto gosto de mim, processo de aprendizagem, ocorro ao longo da vida e é fortemente influenciado pela forma como significamos os acontecimentos da vida, existindo uma relação entre aprendizagem e comportamento.
O cérebro humano é, um órgão altamente especializado para a adaptabilidade e a resiliência que se molda e se constrói para capacitar a pessoa. É a partir da interação e da interdependência, que o cérebro constrói as suas estruturas para se adaptar aos contextos com que se vai deparando, e para ganhar habilidade para se adaptar a esses contextos, numa permanente alternância entre sentimentos de ressentimento e de recompensa, onde a reparação intersubjetiva tem um papel mediador. Mas para que este movimento reparar se perpetue é necessário que seja alimentado por novas relações intersubjetivas de boa qualidade. A interação e a interdependência que cada cérebro tem com os outros cérebros, bem como, a sua plasticidade que se prolonga ao longo de toda a vida, são a fonte de regulação neurobiológica do crescimento psíquico e da saúde mental (VASCONCELOS, 2017). Esta ideia sobre o cérebro social e de como este se desenvolve esclarece alguns aspetos do desenvolvimento psicossocial na vida Adulta avançada. Falamos da família, dos amigos e dos projetos que queremos desenvolver nesta fase. Assim, podemos ter novos amigos ou mesmo acrescentar novas pessoas ao nosso ciclo familiar.
Os estereótipos levam-nos a acreditar que a adultez avançada é um tempo de solidão e isolamento: as pessoas na idade da reforma são pessoas mais isoladas. No entanto os estudos desenvolvidos nesta área falam que 9 em cada 10 adultos atribuem maior importância à família e aos amigos para desfrutarem uma vida repleta de significado e motivação, ou seja, nesta fase mantêm níveis de apoio social, identificando os membros do seu círculo social que podem ajudá-los e, afastam-se daqueles que não lhe dão apoio.
É importante referir que nesta fase do desenvolvimento as pessoas tornam-se mais seletivas.
Escolhem estar com as pessoas e nas atividades que respondem às suas necessidades emocionais imediatas. Tendem a ter o mesmo relacionamento íntimo que nas fases anteriores do desenvolvimento e a sentir o mesmo grau de satisfação, ou seja, necessitam na mesma dos amigos e afastam-se das pessoas que os aborrecem.
Os seus sentimentos pelos amigos são tão fortes quanto os dos jovens adultos e os sentimentos positivos em relação à família são mais fortes (Papalia, 2013). Assim, os que têm mais amigos nesta fase do desenvolvimento são mais saudáveis e felizes. Nesta fase, os adultos mantêm os seus confidentes. Falam com eles dos seus sentimentos, dos seus pensamentos e estes relacionamentos tendem a melhorar com as mudanças e as crises de envelhecimento. Os amigos de longa data podem perdurar, até idades mais avançadas, mas as pessoas na idade avançada fazem novos amigos e revelam-se amigos com afeição e lealdade (Papalia, 2013).
Em síntese esta é uma fase da vida em que os adultos sentem necessidade dos seus amigos e devem ser estimulados a estar com pessoas com quem podem comparar-se e que servem de apoio, desenvolvendo de forma correta o seu autoconceito e a sua autoestima.
Partilha de referências:
- Fachada, O. (2006) Psicologia das Relações Interpessoais. Editora Rumo.
- Papalia, D. (2013). Desenvolvimento Humano, 12ª ed. Artmed.
- Vasconcelos, A. (2017.) O Cérebro Social: Compreendendo o Cérebro como um Órgão Social. Interações: Sociedade e as novas modernidades. 32 (6) 34-52.
Autora
Mª João Santos
Mestre em Psicologia Clínica e Doutorada em Psicopedagogia da criança pela Universidade do Minho. Atualmente docente no IPLeiria.
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