Começou um novo ano letivo escolar. É uma altura de novas expetativas, novas amizades e novos conhecimentos, para os filhos… e para os pais, se assim souberem agarrar as oportunidades. Com toda a preparação que possamos fazer para que seja um recomeço tranquilo, não deixa de ser uma rentrée em tempos conturbados. Será, pois, oportuno questionarmo-nos, nós pais, sobre o que podemos fazer para criar unidade de ação pais – professores.
Estou convicta de que com “pais brilhantes” conseguimos “professores fascinantes”, como apregoa o livro, e de que esta dupla” pais-professores”, centrada no bem comum – o aluno, tem um potencial incomensurável, assim haja comunicação e participação dos pais na escola. De facto, frequentemente há inquietações não resolvidas e expetativas de pais e alunos frustradas, com origem essencialmente na falta de comunicação e na ausência dos pais na vida da escola.
Pais informados e alinhados com a Escola constituem um contributo grandioso para o sucesso escolar dos alunos e para a formação de jovens confiantes, otimistas e com esperança no futuro. E uma das formas mais eficazes de estar presente e de acompanhar o percurso escolar dos filhos, é fazer parte de uma associação de pais.
Ser voluntário inserido no seio de uma associação de pais é uma forma de partilhar a responsabilidade de ensinar; é ser ator no processo educativo dos filhos; é fazer parte de um todo. Nestas lides de educação, situa-se o palco dos pais em Casa e o dos professores na Escola, mas ao ser-se voluntário numa associação de pais, passa a Escola dos Filhos a ser também a Casa dos Pais e, deste modo, a partilharem-se inquietações e a conhecer-se melhor o rumo que os filhos levam.
É este o meu desafio de voluntária da ATLAS: que neste início de ano letivo os pais, eventualmente já voluntários noutras frentes, estejam mais presentes na Escola e se voluntariem para integrarem os Corpos Sociais de uma Associação de Pais.
A bem dos nossos jovens alunos.
Autora Irene Primitivo Voluntária ATLAS no Projeto Velhos Amigos em Leiria. Membro da Direcção.
Tinha chegado o momento de concretizar o objetivo de ensinar a língua portuguesa num país pertencente à nossa comunidade linguística. Antes que a idade o impossibilitasse, era hora de fazer um voluntariado diferente. Assim, Timor-Leste, com a sua história comovente, apareceu como oportunidade de cumprir esse desejo. Contribuir para o desenvolvimento de um jovem país com eterna ligação a Portugal era motivo de orgulho e justificava o sacrifício da partida.
Ao chegar a Timor-Leste, é necessário esquecer o que se conhece da vida.
É preciso despirmo-nos de tudo o que julgamos saber e entrar no contexto. Na maior parte das localidades, o pão não se compra; faz-se. Come-se o que há. Bananas, papaias, maracujás, abacates, anonas, pitaias são vendidos pelos próprios produtores em barracas montadas à porta das próprias casas. Os transportes públicos da cidade de Díli são as “microletes”, carrinhas pequeninas, muito velhas, conduzidas por jovens, com a música aos berros, e tem de se bater com uma moeda no vidro assinalando a intenção de sair. O lixo é queimado, pois não há recolha, e até lá mantém-se em plena rua. Os cuidados médicos são rudimentares e escassos. Não existe indústria nem explorações de agricultura intensiva.
Somos representantes do nosso país; o que um faz reflete-se na forma como a comunidade timorense vê todos os outros e como vê Portugal. O professor é aquele na mão de quem está o futuro dos jovens e do país; é o que detém o conhecimento; é o que deve dar o exemplo. Todas as pessoas nos tratam por “professora” e, dito pelos alunos, parece exprimir um carinho muito grande. Sempre sorridentes, olham para nós com curiosidade e respeito. São jovens irrequietos como todos os outros, mas revelam um grande respeito pelos professores. Muitos desejam vir a ser médicos, engenheiros, informáticos…num país onde escasseiam os empregos. Valorizam muito os livros. Quando um professor lhes oferece ou empresta um livro, sentem-se privilegiados e orgulhosos e tratam o livro com muita consideração.
Num lugar onde quase todos os bens materiais faltam, a família é o orgulho de cada um; definem-se pela família a que pertencem. É gente boa que se esforça muito para fazer evoluir o país entre muitas dificuldades.
Perante tudo isto, fico com vontade de não me queixar de mais nada na vida. Fico com vontade de aproveitar tudo o que de bom houver em meu redor e me fizer feliz e fizer feliz quem o merecer. E, quem sabe, quando a pandemia desaparecer, concretizar, então, o projeto adiado.
Autora Helena Jesus Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande.
Envelhecimento é um processo que dura toda a vida e não uma fase ou uma etapa.
O autoconceito é a perceção que o individuo tem de si. É o que cada um pensa e conhece de si.
O envelhecimento como a autoestima são conceitos que fazem parte do processo desenvolvimental. Não existe uma autoestima para a fase da adultez avançada existe só autoestima e existem adultos.
Começando por esclarecer a noção de autoconceito.
O autoconceitopode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos que se referem ao self enquanto objeto. Não é necessariamente uma visão “objetiva” do que somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal como nos percecionamos. O autoconceito está associado à noção de autoestima. Autoestima é o grau com que o sujeito gosta de ser como é. “A autoestima corresponde aos aspetos avaliativos e emocionais do indivíduo” (Fachada, 2006, p. 123). Então estes dois conceitos, autoestima e autoconceitos, ou seja, o quanto gosto de mim e o que perceciono que sou, revelam-se fundamentais para a definição do nosso comportamento. Então, adultos com elevada autoestima são sociáveis e populares com os outros, confiam mais nas suas próprias opiniões e julgamentos e estão mais seguras das perceções de si próprios. Quando avaliados a nível psicológico são pessoas mais saudáveis e mais adaptadas e sofrem menos de stress quando confrontados com situações de ansiedade, perda, etc. Contrariamente pessoas com baixa autoestima são pessoas infelizes e vêem-se como fracassadas. Abandonam facilmente os desafios, são pessoas ansiosas e com forte sentimento de culpa e são consideradas por si mesmas como incompetentes.
Este processo de definição do que sou e do quanto gosto de mim, processo de aprendizagem, ocorro ao longo da vida e é fortemente influenciado pela forma como significamos os acontecimentos da vida, existindo uma relação entre aprendizagem e comportamento.
O cérebro humano é, um órgão altamente especializado para a adaptabilidade e a resiliência que se molda e se constrói para capacitar a pessoa. É a partir da interação e da interdependência, que o cérebro constrói as suas estruturas para se adaptar aos contextos com que se vai deparando, e para ganhar habilidade para se adaptar a esses contextos, numa permanente alternância entre sentimentos de ressentimento e de recompensa, onde a reparação intersubjetiva tem um papel mediador. Mas para que este movimento reparar se perpetue é necessário que seja alimentado por novas relações intersubjetivas de boa qualidade. A interação e a interdependência que cada cérebro tem com os outros cérebros, bem como, a sua plasticidade que se prolonga ao longo de toda a vida, são a fonte de regulação neurobiológica do crescimento psíquico e da saúde mental (VASCONCELOS, 2017). Esta ideia sobre o cérebro social e de como este se desenvolve esclarece alguns aspetos do desenvolvimento psicossocial na vida Adulta avançada. Falamos da família, dos amigos e dos projetos que queremos desenvolver nesta fase. Assim, podemos ter novos amigos ou mesmo acrescentar novas pessoas ao nosso ciclo familiar.
Os estereótipos levam-nos a acreditar que a adultez avançada é um tempo de solidão e isolamento: as pessoas na idade da reforma são pessoas mais isoladas. No entanto os estudos desenvolvidos nesta área falam que 9 em cada 10 adultos atribuem maior importância à família e aos amigos para desfrutarem uma vida repleta de significado e motivação, ou seja, nesta fase mantêm níveis de apoio social, identificando os membros do seu círculo social que podem ajudá-los e, afastam-se daqueles que não lhe dão apoio.
É importante referir que nesta fase do desenvolvimento as pessoas tornam-se mais seletivas.
Escolhem estar com as pessoas e nas atividades que respondem às suas necessidades emocionais imediatas. Tendem a ter o mesmo relacionamento íntimo que nas fases anteriores do desenvolvimento e a sentir o mesmo grau de satisfação, ou seja, necessitam na mesma dos amigos e afastam-se das pessoas que os aborrecem.
Os seus sentimentos pelos amigos são tão fortes quanto os dos jovens adultos e os sentimentos positivos em relação à família são mais fortes (Papalia, 2013). Assim, os que têm mais amigos nesta fase do desenvolvimento são mais saudáveis e felizes. Nesta fase, os adultos mantêm os seus confidentes. Falam com eles dos seus sentimentos, dos seus pensamentos e estes relacionamentos tendem a melhorar com as mudanças e as crises de envelhecimento. Os amigos de longa data podem perdurar, até idades mais avançadas, mas as pessoas na idade avançada fazem novos amigos e revelam-se amigos com afeição e lealdade (Papalia, 2013).
Em síntese esta é uma fase da vida em que os adultos sentem necessidade dos seus amigos e devem ser estimulados a estar com pessoas com quem podem comparar-se e que servem de apoio, desenvolvendo de forma correta o seu autoconceito e a sua autoestima.
Partilha de referências:
Fachada, O. (2006) Psicologia das Relações Interpessoais. Editora Rumo.
Papalia, D. (2013). Desenvolvimento Humano, 12ª ed. Artmed.
Vasconcelos, A. (2017.) O Cérebro Social: Compreendendo o Cérebro como um Órgão Social. Interações: Sociedade e as novas modernidades. 32 (6) 34-52.
Autora Mª João Santos Mestre em Psicologia Clínica e Doutorada em Psicopedagogia da criança pela Universidade do Minho. Atualmente docente no IPLeiria.
A reforma é o merecido descanso de uma vida de trabalho, de correrias, de preocupações.
Há aquele alívio de que vamos finalmente descansar. Assim sendo, parece ser realmente o ideal, talvez durante uns tempos. No entanto, quando a inércia toma conta de nós, tudo começa a ficar mais complicado. Não há rotinas, não há horários, não há a conversa habitual com as amigas e tudo se torna mais monótono. Há que arranjar algo que nos ocupe de novo, mas agora sem pressas nem compromissos rigorosos. Depois de algumas pesquisas, encontrei a Projetos de Vida Sénior, fui ver do que se tratava, gostei e inscrevi-me. Tudo mudou! Passou a haver de novo tempo para tudo, senti-me de novo ativa. Convivemos, aprendemos, fazemos exercício físico e mental, fazemos visitas temáticas e passeios pelo país e até pelo estrangeiro. Fiz novos amigos e reencontrei outros com quem há muito não convivia. De realçar ainda os extraordinários professores que dão o seu tempo e partilham o seu saber voluntariamente, dando-nos também muito da sua simpatia e amizade.
A “Universidade Sénior” foi verdadeiramente algo de bom que me aconteceu. Foram três anos maravilhosos que me enriqueceram a todos os níveis.
Digo três anos porque ganhei, finalmente, o estatuto de avó! Esta era a etapa que faltava na minha vida e eu queria desfruta-la ao máximo. Ponderei e evidentemente optei por ajudar a criar o meu neto. Interrompi então a minha passagem pela a Universidade, convicta de que iria voltar. Não foi possível, até à data, porque voltei, de novo, a ser avó. Mantenho, no entanto, a esperança de voltar porque não há prazo para aprender e para ser feliz.
Autora Cidália Carvalheiro Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande. Natural de Viseu, tem 71 anos, é casada há 50 anos, tem dois filhos e dois netos.
Uma senhora, de idade avançada, veterana na vida, ocupava uma cadeira num recanto de um cabeleireiro. Parecia esquecida como um candeeiro baço ou como a própria cadeira que ocupava, como se não tivesse vida. E ela que tinha tanta! Ao seu lado, no chão, repousava a sua bengala, a sua perna mais nova, mais firme, que lhe permitia o apoio nos movimentos.
O seu cabelo de neve escorregava por baixo de um barrete preto, que tapava o frio e os fios finos. Também tapava a vaidade que, a partir de certa idade, passa a ser uma raridade. A sua cara riscada de linhas exibia uma cor clara, porém manchada aqui e acolá. A sua silhueta pesava para a sua idade, por isso o recurso à bengala e à cadeira. Os seus olhos, tapados por umas cortinas espessas espelhavam doçura e apenas deitavam brilho.
Depois de pegar na sua bengala e de a encostar junto a si, fixou os olhos numa revista colorida. Quis entreter-se. Queria ver que fotografias mostrava do mundo. Pegou nela, com a sua mão já um pouco trémula, e começou a fazer passar as páginas pelos dedos. As caras eram todas lisas e cobertas de cores diversas para realçar os olhos e os lábios. Havia cabelos que deslizavam, outros que saltitavam e ainda outros armados em trabalhos elaborados.
As roupas eram vistosas e coloridas e deixavam adivinhar silhuetas todas magras, firmes e jovens.
Folheou a revista até ao fim e depois apenas disse:
– “Isto é só para os novos!”
E era. Também a revista parecia esquecer-se dela com aquela idolatria toda ao corpo jovem, modelado. E as outras revistas pareciam ser todas iguais. Não havia nenhuma que apresentasse silhuetas mais frágeis e mais volumosas. Não se vislumbrava qualquer sinal de cabelos brancos e finos. Nenhuma procurava embelezar uma cara riscada de rugas. Nenhuma sequer procuraria retratar um sorriso verdadeiro, daqueles que só vêm das pessoas que só se riem quando querem.
Depois de proclamar a sua crítica, atirou a revista para dentro do cesto (de onde tinha saído) e continuou na sua cadeira. Sentada. À espera.
Ninguém ligou. Ninguém ouviu. Continuou tudo na mesma. O secador continuou a alisar cabelos com a ajuda das escovas e as conversas acompanhavam a imagem que ia aparecendo no espelho.
Autora Celina da Costa Gameiro Residente em S. Simão de Litém, concelho de Pombal. Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC. Ouvinte e observadora. Voluntária na Atlas, no projeto Velhos Amigos.
O voluntariado é um exercício de cidadania, de solidariedade e contribui para a realização pessoal de quem o pratica. Definido como “um ato livre, gratuito e desinteressado, oferecido às pessoas, às organizações, à comunidade ou à sociedade” (Paré e Wavroch, 2002:11), o reconhecimento da importância da prática tem vindo crescer, note-se o estabelecimento do ano internacional do voluntariado (2001), o assinalar do dia internacional dos voluntários (05 de dezembro), bem como a criação de programas de voluntariado.
A Organização das Nações Unidas realça a importância do voluntariado pelo seu papel no “reforço da coesão social e económica, gerando capital social, promovendo a cidadania ativa, a solidariedade e uma forma de cultura que põe as pessoas em primeiro lugar”.
O voluntariado desempenha uma função muito importante no apoio ao estado, e às organizações do terceiro sector, que não conseguem dar resposta a todas as situações. É uma forma de participar na transformação social e um meio de participação cívica dos cidadãos, onde o indivíduo procura dar um contributo para tornar a sociedade melhor, mais inclusiva, mais igualitária, respeitando e agindo de acordo com os direitos de todos os seres. É uma prática que deve ser incentivada e impulsionada (tendo aqui a educação um papel fundamental) para que se torna parte integrante da cultura.
“Dar e receber devia ser a nossa forma de viver”
António Variações
Faço voluntariado há vários anos, e recomendo! Faço-o com pessoas, faço-o com animais, faço-o por mim. Na minha opinião o voluntariado assenta na premissa dar e receber, tal como diz a canção do António Variações “dar e receber devia ser a nossa forma de viver”. Dou um pouco do meu tempo e da minha atenção e em troca recebo sorrisos e estima.
As motivações para o voluntariado são também alvo de um crescente interesse por parte da comunidade académica que tem vindo a desenvolver vários estudos para compreender os motivos que levam os indivíduos a desenvolverem a atividade de voluntariado, e a permanecer na prática por longos períodos; bem como estudos de caraterização da prática do voluntariado (em Portugal – Delicado, 2002; Amaro et al, 2012; Serapioni, Ferreira e Lima, 2013). Os estudos sobre a motivação para o voluntariado são efetuados com base na aplicação de vários instrumentos, nomeadamente o inventário de funções do voluntario que identifica várias categorias: as pessoas tornam-se voluntárias para expressar os valores (altruísmo), para desenvolver habilidades /aprendizagem, por motivos relacionados a carreira (ganhar experiência profissional), para proteger o próprio self de sentimentos de culpa, para crescimento/desenvolvimento pessoal, pela possibilidade de socializar com outras pessoas.
Vários autores (Delicado, 2002; Cnaan e Goldberg-Glen, 1991) consideram que as motivações para o voluntariado tanto podem ser de carácter altruísta como de carácter egoísta, uma vez que a sua pratica contribui, pelas experiências vividas e partilhadas, para o crescimento pessoal. Importa também referir que diversos estudos realizados juntos de voluntários apontam para a perceção de benefícios como uma melhor saúde física e mental, bem como níveis elevados de bem-estar subjetivo.
Autora Cláudia Marinho Socióloga, Investigadora Social em temas como migrações, juventude, delinquência juvenil. Voluntária na ATLAS, no Projeto Velhos Amigos.
Olá, sou a Nicole Bohórquez tenho 20 anos e sou uma estudante Universitária do Equador. Há 3 anos lancei-me numa aventura para um dos melhores países do Mundo, Portugal.
Quando temos 17 anos ainda não sabemos muito bem o que queremos ser na vida, nem o que queremos estudar e muito menos onde; mas uma coisa é verdade, queremos sempre uma mudança, queremos trocar tudo aquilo que não gostávamos por coisas que nos apaixonam.
O Equador é um país maravilhoso: cheio de cultura, importantes patrimónios históricos e uma flora e fauna como nenhuma outra região no mundo; histórias que intrigam aos mais exigentes visitantes são contadas diariamente nos seus grandes centros coloniais. Quito, a cidade que me viu crescer e a antiga capital do império Inca como, alguns historiadores afirmam, foi contruída na metade do mundo sobre as montanhas da cordilheira dos Andes a mais de 2.850 metros sobre o nível do mar, e foi o lugar onde toda a minha família esperava saber qual ia ser o próximo episodio da minha vida.
Mas para uma rapariga como eu, que estava à procura de novos desafios e expandir os seus conhecimentos mais além das fronteiras ,não me bastava ficar naquele belo lugar. Eu precisava de mais, precisava mesmo de levar a minha mala cheia de solidariedade a um país tão maravilhoso como o meu. A dúvida invadia todo o meu corpo, despertando o desejo de saber qual seria o meu destino.
Portugal é o País dos castelos medievais, aldeias de xisto, cidades cativantes e praias douradas, uma região que entrega ao mundo os mais sublimes pôr-do-sol que alguma vez já vi. Desde a cidade dos Miradouros de Lisboa até à apaixonante cidade de Porto. O terceiro país mais seguro do mundo, uma região muito tranquila para se viver, os cidadãos mais antigos dizem que Portugal é o “cantinho do céu”; e como não acreditar nisto se cada dia da minha vida em Portugal tem sido uma bênção de Deus.
Eu sou das pessoas que acreditam em que a vida é uma aventura, e que temos de vivê-la como se cada dia fosse o último, sou uma rapariga que tem uma grande ligação com a sua família, mas o meu compromisso com o mundo vai mais longe. Nunca me vou esquecer da primeira vez que tive de me despedir da minha família no aeroporto Internacional de Quito, nunca antes tinha sentido tantas emoções ao mesmo tempo, era uma batalha intensa entre o entusiasmo de conhecer o meu destino e a tristeza de deixar para atrás os seres que mais amo no planeta.
Só a partir daí reparas que tudo o que tinhas antes ou o que tinhas construído em toda a tua vida afastava-se pouco a pouco através da janela dum avião, mas depois de um suspiro começas a pensar em que tudo vai correr bem, e em que serás o orgulho de uma família inteira que sempre vai esperar o teu regresso.
Portugal recebeu-me de braços abertos, o clima era perfeito, o meu café era perfeito, Leiria era tão linda, tudo era espetacular. Não podia esperar para chegar ao meu quarto deixar as minhas coisas e sair para conhecer a nova cidade onde ia viver nos próximos 3 anos.
No início, o meu nível de português era o equivalente a um miúdo de 6 anos e, apesar disso, graças à boa vontade para ajudar- característica do povo português-, conseguia comunicar com algumas dificuldades, mas sempre transmitindo o meu objetivo.
Adorei imenso a gastronomia de Portugal!,- o bacalhau com natas, o bacalhau a Brás, o bacalhau espiritual-,… meu deus, nunca pensei que o bacalhau podia ser cozinhado de tantas maneiras e oxalá algum dia consiga experimentar todos os que existem.
Para quem vem da América Latina, continente que não testemunhou a época Medieval, a arquitetura das cidades europeias é uma verdadeira obra de arte e o ponto mais expressivo da bela cidade de Leiria sem dúvida é o seu castelo, de onde os visitantes podem apreciar as extensões territoriais de uma das mais peculiares cidades europeias.
Será que valia a pena ter deixado tudo para trás?
Os meus primeiros meses não podiam ter sido melhores, foi uma das melhores épocas que já passei, mas chegou um ponto que comecei a questionar as minhas próprias decisões, era este o caminho correto? era esta a vida que eu queria? Será que valia a pena ter deixado tudo para trás e começar do zero? tantas perguntas sem uma resposta clara nublavam na minha mente e afogavam as minhas ânsias de mover adiante.
Sim, é certo que vir para Portugal foi a melhor decisão que podia ter tomado, mas deixar o meu país foi o mais difícil de assimilar. Neste ponto da minha vida, onde quase nada fazia sentido, ganhei uma família, da qual vou estar sempre eternamente agradecida, pois com eles descobri a importância de valorizar a vida de uma pessoa tanto como a de milhões: Atlas, uma organização Portuguesa de Voluntariado, um raio de esperança no mundo e uma bênção para aqueles que mais precisam da colaboração da sociedade.
Graças a eles, reforcei o meu propósito de vida: “Fazer o bem sem olhar para quem”, e aos que chegaram até este ponto da história, quero dizer-vos que o mundo precisa de nós, não importa onde estejamos. Podemos fazer tanto só com o nosso sorriso e a vontade de fazer mais amena a vida daqueles que já desistiram de ser felizes.
Quero culminar com uma frase que toca a minha alma sempre que a oiço, e que sei que vai servir como motivo para te fazer sair da tua cadeira a abraçar todos aqueles que precisem do nosso carinho.
Enquanto houver vida, haverá esperança!
Autora Dayana Nicole Bohórquez Huertas Estudante e Voluntária no Projeto Velhos Amigos
Iniciei a escrita deste texto a pensar no título de uma canção do extraordinário Sérgio Godinho: “Mudemos de assunto”.
Por mais que tente “mudar de assunto”, tenho ido parar ao mesmo: a minha perceção de que, neste momento social, as pessoas em idade ativa parecem estar divididas em dois compassos. Por um lado, trabalhadores que estão, de momento, desempregados, em espera da desejada “retoma” e a refazerem expetativas de forma a se ajustarem às oportunidades que surjam. Por outro lado, os trabalhadores no ativo que, independentemente do setor de atividade, estão a viver num ritmo frenético e avassalador.
Curiosamente, a média de idades dos voluntários da ATLAS é de 41 anos, a maioria estará a trabalhar. Há, certamente, episódios de vida comuns entre nós: mais um turno que é preciso fazer na fábrica num pico de produção; horas extra no escritório para concluir um relatório; prolongamento do horário para apoio logístico a tantos pedidos de clientes; videochamadas sem fim quando o trabalho invadiu a nossa casa, etc.. Trabalhar produtivamente é salutar e esperado nesta etapa do ciclo de vida (que se prolonga até cerca dos 60 anos). A par da produção e criatividade na atividade profissional surge a necessidade de criar e cuidar da família.
O meu ruminar de assunto tem a ver com isto mesmo: neste mundo materialista, dos números e das metas, a balança sai muitas vezes desequilibrada, com o aspeto profissional mais sorvedouro. A idade dos grandes desafios profissionais é também a dos grandes desafios da educação dos filhos e das fragilidades dos pais e a vida é, tantas vezes, gerida ao minuto, num correr de dias e voo de meses. Os filhos crescem, os pais envelhecem e precisamos ter tempo só para ser, só para estar.
“(…) precisamos ter tempo só para ser, só para estar.”
“Mas isto é um canto E não um lamento Já disse o que sinto Agora façamos o ponto E mudemos de assunto (…)”
Conseguindo satisfação neste equilíbrio entre trabalho e família, o sentido do cuidar pode até ir além do contexto familiar e abarcar a comunidade onde se está inserido, a preocupação com os outros, o cuidar solidário (que também é comum entre nós, voluntários). Neste mundo incerto, complexo, ambíguo, imprevisível, precisamos de descobrir quais as ligações (à natureza, à família, aos amigos, ao trabalho, à comunidade, etc.) que nos dão segurança, confiança e que têm significado para nós. Essas ligações são as que moderam os desequilíbrios e restituem harmonia. É um exercício de reflexão, cuja necessidade tantas vezes sentimos, mas que os grandes desafios, que acima referi, vão adiando… Então, desejo-nos tempo para que “façamos o ponto” da vida, de vez em quando, e para que possamos vivenciar essas ligações.
Autora Sofia Carruço Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria
O meu nome é Hélia Carla Amado Rodrigues, nos últimos anos trabalhei nas áreas do acolhimento residencial de crianças e jovens em perigo e formação/ensino. Invisto de forma continua na minha capacidade de ser útil nos valores de – cooperação e solidariedade de reciprocidade – com o objetivo de me acrescentar na elasticidade/plasticidade cerebral nas diferentes dinâmicas sociais, sobretudo fora da minha zona de conforto. Procuro sair da minha moldura/caixa dos afazeres diários, contribuindo assim para o crescente da minha criatividade de soluções, onde possa ser significativa nas pequenas ações que espero terem impacto nos seus usuários/recetores. Escolhi doar tempo e solidarizar-me com a Atlas no seu projeto – Velhos Amigos.
Assistencialismo vs Solidariedade
Proponho neste parágrafo a reflexão breve entre – assistencialismo vs solidariedade, numa linha da distinção para a sua união, ou seja o assistencialismo com uma vertente moral caritativa da dádiva aos desvalidos (tratar dos pobrezinhos) para uma visão assente nos prismas da solidariedade de reciprocidade[1], a responsabilidade da ação voluntária com paridade de decisão, entre o dador e o recetor, desemboca na solidariedade.
Sendo assim, um voluntariado substantivo da condição humana nas diferentes dimensões inerentes[2], e, recusar a ação de voluntariado numa base no sentido único da dádiva do assistencialismo com uma dependência das políticas do estado ou do excedente da economia de mercado, emancipá-la para – aquela que promove e que não assiste só -, torna-la num contributo para as tomadas de decisões políticas com base no conhecimento da prática do fazer e do estar, para uma ação assertiva do e com o SER.
Importa sentir que não basta só dar mas envolver os recetores nas decisões, tornando-os assim os decisores com projeções para o e com futuro – agentes ativos da própria mudança.
[1] Conceito de reciprocidade: dar sem esperar receber em troca; receber sem sentir a obrigação de dar em troca; e, trocar bens e serviços sem importância mercantil / lucro.
[2] Como a: social, sistémica, política, económica, ambiental, territorial, cultural, cognitiva, ética, entre outras
Autora Helia Carla Amado Educadora Social e voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande
O Dia Mundial da Justiça Social, comemorado desde 2009 a 20 de fevereiro, foi uma data proposta em 2007 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, de acordo com a Resolução A/RES/62/10. O objetivo do Dia é promover esforços para enfrentar questões como a pobreza, o desemprego e a exclusão, tentando criar oportunidades para todos e combater as desigualdades no mundo.
Injustiças Sociais em 2021
Vivemos ainda num mundo marcado por várias e diversas injustiças sociais. Todos os dias, local e mundialmente, pessoas são excluídas socialmente pela sua história de vida, pelo género, pela raça, pela etnia, pela religião, pela doença e pela capacidade sócio-económica.
Em 2021 lidamos ainda com a pandemia Covid-19, que causou uma crise sem precedentes em todo o mundo. Estamos todos a viver os efeitos deste momento tão difícil na história. Porém, para uma grande parcela da população, a crise é vivenciada de forma ainda mais intensa e preocupante, devido às desigualdades sociais. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2020, 2,037 milhões de portugueses encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social. Na imagem seguinte percebemos que o risco de pobreza e exclusão social tem diminuido ao longo dos anos, ainda assim, 19,8% da população portuguesa encontra-se numa situação de extrema vulnerabilidade.
A luta pela Justiça Social
Quer seja a nível local, nacional ou internacional, pela sociedade civil organizada ou pelos governos, a luta pela justiça social é premente e leva-se a cabo, acima de tudo, através de uma:
Justiça Social preventiva: Aquela que garante políticas de informação, educação e capacitação para a igualdade.
Justiça Social interventiva: onde se integram as Políticas Sociais que permitem o (re)equilíbrio da pessoa na sociedade.
O papel do estado
A luta pela Justiça Social pode ser feita por todos nós (ver infográfico no fim da página) mas é de evidenciar o papel do Estado sendo que, de acordo com a Constituição da República Portuguesa, é dever do mesmo:
“b) Promover a justiça social, assegurar a igualdade de oportunidades e operar as necessárias correções das desigualdades na distribuição da riqueza e do rendimento, nomeadamente através da política fiscal;”
Artigo 81.º b) “Incumbências prioritárias do Estado” da Constituição da República Portuguesa
4. A tributação do consumo visa adaptar a estrutura do consumo à evolução das necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, devendo onerar os consumos de luxo.
Artigo 104.º “Impostos” da Constituição da República Portuguesa
O papel de cada um de nós
Partilhamos um infográfico do que cada um de nós, cidadãos e cidadãs, pode fazer.
Comentários