Cidadania Ativa

Fazer parte de um todo na escola

Começou um novo ano letivo escolar. É uma altura de novas expetativas, novas amizades e novos conhecimentos, para os filhos… e para os pais, se assim souberem agarrar as oportunidades. Com toda a preparação que possamos fazer para que seja um recomeço tranquilo, não deixa de ser uma rentrée em tempos conturbados. Será, pois, oportuno questionarmo-nos, nós pais, sobre o que podemos fazer para criar unidade de ação pais – professores.

Estou convicta de que com “pais brilhantes” conseguimos “professores fascinantes”, como apregoa o livro, e de que esta dupla” pais-professores”, centrada no bem comum – o aluno, tem um potencial incomensurável, assim haja comunicação e participação dos pais na escola.  De facto, frequentemente há inquietações não resolvidas e expetativas de pais e alunos frustradas, com origem essencialmente na falta de comunicação e na ausência dos pais na vida da escola.

Pais informados e alinhados com a Escola constituem um contributo grandioso para o sucesso escolar dos alunos e para a formação de jovens confiantes, otimistas e com esperança no futuro.  E uma das formas mais eficazes de estar presente e de acompanhar o percurso escolar dos filhos, é fazer parte de uma associação de pais.

Ser voluntário inserido no seio de uma associação de pais é uma forma de partilhar a responsabilidade de ensinar; é ser ator no processo educativo dos filhos; é fazer parte de um todo. Nestas lides de educação, situa-se o palco dos pais em Casa e o dos professores na Escola, mas ao ser-se voluntário numa associação de pais, passa a Escola dos Filhos a ser também a Casa dos Pais e, deste modo, a partilharem-se inquietações e a conhecer-se melhor o rumo que os filhos levam.

É este o meu desafio de voluntária da ATLAS: que neste início de ano letivo os pais, eventualmente já voluntários noutras frentes, estejam mais presentes na Escola e se voluntariem para integrarem os Corpos Sociais de uma Associação de Pais.

A bem dos nossos jovens alunos.


Autora
Irene Primitivo
Voluntária ATLAS no Projeto Velhos Amigos em Leiria. Membro da Direcção.

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Um vídeo para celebrar o voluntariado.

No mês de Junho, voluntários e voluntárias estiveram em gravações para dois vídeos da ATLAS. Dois vídeos que têm como objetivo divulgar e promover o trabalho da organizaçao junto de parceiros, investidores sociais e de possíveis corações, que se queiram voluntariar.

O primeiro vídeo está pronto para partilhar!

Serão dois vídeos: um geral sobre a ATLAS , que pretende apelar ao voluntariado e um outro específico sobre o Projeto Velhos Amigos. O primeiro está pronto e revela-nos alguns rostos bem conhecidos da ATLAS. São só alguns, infelizmente o tempo do vídeo não nos permite que apareçam todos e todas.

Antes de irmos ao que interessa, o vídeo, dizer-vos que o próximo, sobre o projeto velhos amigos, deverá ficar pronto no mês de Setembro e por isso partilharemos na Newsletter do próximo mês.

Relembramos que os vídeos foram financiados pela Fidelidade Comunidade, na sequência de um prémio ganho em 2019. Mais informações sobre o prémio aqui.

Esperamos que gostem do resultado!

Agradecemos a vossa disponibilidade e entrega, sempre!


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Saudades das festas populares e do nosso Arraial Atlas!

Passou o São João e o São Pedro e faltou o nosso Arraial Atlas, cada ano mais aprimorado! O porco a assar no espeto, as sardinhas, a paelha, as sandes de leitão, o café da avó, os bolos, e ainda os arcos, as flores e as luzes que enfeitam os socalcos… O branco e o vermelho pontilham o jardim, são dezenas de voluntários juntos, cada um dando o seu melhor! 


É um ponto alto do trabalho voluntário, do convívio, da alegria do reencontro, de receber quem se estreia na Atlas.

Neste verão sinto falta dos Arraiais, das Festas Populares… As festas polvilham de cor um fim de semana por cada aldeia, quando alguma da gente que lá cresceu se junta para honrar o Santo Padroeiro e, assim, ter pretexto para estar em festa o dia inteiro! Cozinham-se petiscos do melhor, põe-se a tocar música que toda a gente canta e dança (nem que seja só “nessa noite de verão”) e o espírito rejuvenesce! A energia dos dias grandes e a brisa refrescante das noites de verão trazem o povo para a rua, “só mais dois dedos de conversa” e, quem sabe, um pezinho no bailarico.

Arraial Solidário 2019 da ATLAS People Like Us, Barreira (Leiria)

Nas festas populares perpetuam-se tradições e, assim, estamos em sintonia com as gerações que desbravaram antes de nós. As Festas dos Santos, por exemplo, são celebrações católicas que dão continuidade aos festejos pagãos do solstício de verão. Os festejos assinalavam o dia com mais horas de luz solar, tão importante para o amadurecimento dos frutos e cereais, celebrando a fertilidade da Terra, pois as colheitas surgiriam em breve. Estes rituais de fertilidade chegam aos nossos dias simbolicamente representados no manjerico, planta que os namorados oferecem, um ao outro, com versos de amor. [1]

Se neste verão ainda não podemos viver as Festas com toda a sua expressão, então, que façamos algo que nos mantenha ligados à tradição, cada um ao seu jeito (comprar um manjerico; confecionar o típico bolo em ferradura; escrever quadras aos Santos; cantar música de Arraial; etc.) As tradições mantêm-se pela ação de cada um de nós e são história de um povo que uma geração conta à seguinte.

Ó meu rico São João,
Temos saudades do Arraial

Enche-nos de esperança o coração,
E que no próximo ano haja um sem igual!


[1] https://www.visitportugal.com/pt-pt/no;


Autora
Sofia Carruço
Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria

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Uma leitura, uma partilha de opinião.

“Uma leitura, uma partilha de opinião” é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!


Durante a queda aprendi a voar

Comentário de Fernanda Castela
Voluntária do Atlas desde a sua fundação. Adora ler, jardinar e música clássica. Colaboradora na Faculdade de Medicina da UC. Tem 62 anos, casada, 2 filhos, 4 netos e vive em Cernache.

A minha sugestão de leitura vai para um livro que li há uns tempos e que me ficou na memória pela simplicidade como está escrito e pela forma como o autor trata do tema depressão, com tanta leveza, sem sequer fazer drama disso.

Quando começamos a ler, achamos que é uma historia de amor e efetivamente é, mas à medida que vamos avançando na leitura verificamos que se trata de amor das várias formas de existir: paternal, filial, amor ao próximo e principalmente na entrega ao outro.

É na dedicação incondicional do pai e na reciprocidade do amor filial que este livro nos mostra que por amor se consegue ultrapassar tantos obstáculos.

É também da dedicação e na cumplicidade entre irmãos e como um irmão se anula para se dedicar ao outro, tanto fazendo-se passar por jovem rapazinho, ou se transformando em adulto e lhe dá ordens como de um pai se tratasse. Ao mesmo tempo é aflitivo ver a quantidade de “sombras” que o nosso cérebro consegue criar, como podemos e devemos tratar.

No livro em causa foi uma depressão muito bem acompanhada tanto profissional como familiar. E não deveria ser assim na ficção e na vida real?
Mas é igualmente bom de ler, a parte em que mais uma vez o autor nos leva a pensar o quanto nos faz bem a entrega ao outro e a maioria das vezes, é muito mais o que recebemos do que temos que dar.

O facto de tentarmos perceber as dificuldades dos que nos rodeiam, faz-nos pensar que lhe devíamos dar muito mais valor. Foi o que aconteceu também com o Duarte que ao ajudar alguém que nem sequer conhecia recebeu o seu sorriso, algo que já estava esquecido.

Este raciocínio leva-me a pensar nos nossos “Velhos Amigos”.

Muitas vezes quando vou visitar, penso se seria capaz de estar há um ano fechada entre quatro paredes, como se costuma dizer, entregue simplesmente a uma televisão e às pessoas que pontualmente os visitam. E, no entanto, lá estão eles com um sorriso à nossa espera ficando felizes com tão pouco. É tão fácil fazê-los felizes.

Mas voltando ao livro e como o melhor vem sempre no fim, foi exatamente o final que me surpreendeu.

O livro que acabo de descrever trata-se de “Durante a queda aprendi a voar” de Raul Minh’Alma

Durante a queda aprendi a voar
Raul Minh’Alma

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Velhos Amigos na Inauguração da Startup de Inovação Social de Leiria

A inauguração aconteceu no dia 28 de junho, e contou com a presença da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – Ana Mendes Godinho.


Desde 2019 a ATLAS tem participado ativamente nas atividades da incubadora IDDNET. Ainda em 2019 marcámos presença no 1º Bootcamp em Empreendedorismo Social, realizado em Leiria. Este Bootcamp, promovido pela IDDNET, contou com a organização do IES – Social Business School e com o investimento social do IPLeiria.

Em 2020 a incubadora IDDNET anunciou a fusão com a aceleradora StartUp Leiria. As duas entidades são agora uma só com a designação de StartUp Leiria.

Pode ser uma imagem de 4 pessoas e pessoas sorrindo
Certificados de 1º Prémio do Bootcamp em Empreendedorismo Social, promovido pela IDDNET – Startup Leiria

Atualmente a ATLAS recebe apoio da Startup Leiria no desenvolvimento de um projeto de inovação social que pretende vir a integrar idosos artesãos na comunidade através de um trabalho colaborativo com jovens designers.

A colaboração com a Startup Leiria tem permitido reforçar as competências da equipa técnica no âmbito da inovação social, desenvolvimento de planos de negócio assim como medição de impacto social. Ainda em 2019 a incubadora fez a revisão da candidatura do Projetos Velhos Amigos ao financiamento Parcerias para o Impacto, promovido pelo Portugal Inovação Social. Com candidatura ganha e já em execução, no dia 28 tivemos a oportunidade de apresentar o projeto.

Apresentação do Projeto Velhos Amigos, dinamizado pela ATLAS People Like Us na Inauguração Startup de Inovação Social de Leiria.


“Temos de ter uma nova inspiração para diferentes respostas sociais que não deixem ninguém para trás, desprotegido ou fora da comunidade. Precisamos de cérebros dedicados à inovação social”, afirmou a ministra Ana Mendes Godinho.


O projeto Velhos Amigos permite o acompanhamento de idosos em situação de isolamento social e carência económica. Alinhado com as necessidades sociais assim como com as políticas nacionais o projeto promove a cidadania ativa e a responsabilidade social. Com a aprovação da candidatura (Parcerias para o Impacto), em 2020, é mantida a génese do projeto Velhos Amigos com a mobilização da sociedade Civil e a entrega de refeições e é permitida uma acrescida monitorização e acompanhamento do bem-estar e qualidade de vida dos idosos apoiados dos municípios de Pombal, Leiria, Marinha Grande e Batalha.

Beneficiária de Pombal em contacto com uma voluntária da ATLAS – People Like Us

Saber mais sobre o projeto.

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Do outro lado do mundo

Tinha chegado o momento de concretizar o objetivo de ensinar a língua portuguesa num país pertencente à nossa comunidade linguística. Antes que a idade o impossibilitasse, era hora de fazer um voluntariado diferente. Assim, Timor-Leste, com a sua história comovente, apareceu como oportunidade de cumprir esse desejo. Contribuir para o desenvolvimento de um jovem país com eterna ligação a Portugal era motivo de orgulho e justificava o sacrifício da partida.

Ao chegar a Timor-Leste, é necessário esquecer o que se conhece da vida.

É preciso despirmo-nos de tudo o que julgamos saber e entrar no contexto. Na maior parte das localidades, o pão não se compra; faz-se. Come-se o que há.  Bananas, papaias, maracujás, abacates, anonas, pitaias são vendidos pelos próprios produtores em barracas montadas à porta das próprias casas. Os transportes públicos da cidade de Díli são as “microletes”, carrinhas pequeninas, muito velhas, conduzidas por jovens, com a música aos berros, e tem de se bater com uma moeda no vidro assinalando a intenção de sair. O lixo é queimado, pois não há recolha, e até lá mantém-se em plena rua. Os cuidados médicos são rudimentares e escassos. Não existe indústria nem explorações de agricultura intensiva.

Somos representantes do nosso país; o que um faz reflete-se na forma como a comunidade timorense vê todos os outros e como vê Portugal. O professor é aquele na mão de quem está o futuro dos jovens e do país; é o que detém o conhecimento; é o que deve dar o exemplo. Todas as pessoas nos tratam por “professora” e, dito pelos alunos, parece exprimir um carinho muito grande. Sempre sorridentes, olham para nós com curiosidade e respeito. São jovens irrequietos como todos os outros, mas revelam um grande respeito pelos professores. Muitos desejam vir a ser médicos, engenheiros, informáticos…num país onde escasseiam os empregos. Valorizam muito os livros. Quando um professor lhes oferece ou empresta um livro, sentem-se privilegiados e orgulhosos e tratam o livro com muita consideração.

Sentir Portugal em Timor-Leste | UCCLA
Do outro lado do mundo. Ensinar a língua portuguesa em Timor-Leste

Num lugar onde quase todos os bens materiais faltam, a família é o orgulho de cada um; definem-se pela família a que pertencem. É gente boa que se esforça muito para fazer evoluir o país entre muitas dificuldades.

 Perante tudo isto, fico com vontade de não me queixar de mais nada na vida. Fico com vontade de aproveitar tudo o que de bom houver em meu redor e me fizer feliz e fizer feliz quem o merecer. E, quem sabe, quando a pandemia desaparecer, concretizar, então, o projeto adiado.


Autora
Helena Jesus
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande.

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Uma leitura, uma partilha de opinião.

“Uma leitura, uma partilha de opinião” é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!


Almoço de sábado e “Almoço de Domingo”

Comentário de
Celina da Costa Gameiro
Voluntária do Projeto Velhos Amigos, residente em S.Simão de Litém – Pombal
Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC

Acabei recentemente de ler o novo livro do autor José Luís Peixoto intitulado “Almoço de Domingo”. Quando o comprei, sabia que se tratava de uma biografia, mais particularmente de Rui Nabeiro, o grande empresário do café Delta, mas estava longe de imaginar o tipo de viagem que esta biografia me ia permitir fazer. É uma viagem constante através de tempos e de espaços, tão distintos e sempre unidos pela voz do narrador.

Começa pelo presente, que entretanto já passou. Começa por um acordar, não só o acordar do sono, mas também o acordar da consciência, de onde está e de quem é e qual é a sua situação. “Sabia que envelhecer é acumular dores: começam por doer certos gestos, certos jeitos, virar-se de repente, agachar-se para atar o sapato; depois doem as acções mais comuns, sentar-se, levantar-se, caminhar; até que, por fim, dói tudo, dói estar, dói ser.” Mas, de repente, naquele acordar, não havia dores, só lembranças: “os óculos do Marcello Caetano são sofisticados. A grossura das lentes não lhe reduz o feitio dos olhos”. Prosseguiu até às farinheiras de sua mãe: “o cheiro avinagrado da massa das farinheiras que repousava em dois alguidares” e depois “a mãe e duas mulheres, com unhas cortadas à tesoura, a encher as tripas” e a voz da mãe a chamá-lo: “Onde existia a voz da mãe naquele instante?”

A mãe chamava-o dentro de si e transportava-o até à infância, até à salsicharia, da qual era dona, e para junto dos fumeiros, onde o instruía: “O lume tem de se conformar com chamas comedidas, sem extravagâncias de grande queima…” e ele mantinha-se alerta: “ É por isso que estou de sentinela, esta cana serve para animar o lume se começa a esmorecer, mas também para lhe dar uma cacetada se quiser levantar cabelo…” A mãe ficou viúva cedo com os filhos ao seu encargo e quando o rapaz ficou espigadote, a mãe achou por bem intervir, pedindo que escrevessem uma carta ao Presidente da República, para que lhe livrasse o filho da tropa, que precisava dele: “a carta roga ao presidente que me passe à reserva militar, ou que me permita cumprir o mínimo indispensável…diz que sou o amparo da família…”

A outra mulher que acompanha o protagonista ao longo da sua história é Alice, a sua esposa. “Nunca se cansava de repetir esse nome no seu íntimo…” Alice esteve e está sempre lá, junto dele: “a mulher a querer ajudá-lo, chega aqui, a mulher a compor a gravata, Alice, há minutos apenas, a mulher sentada, ele inclinado sobre ela…”

Uma das memórias que o acompanha é o do velório do próprio pai: “…tinha dezassete anos no interior dessa lembrança, a mãe, o irmão e as irmãs estavam vagamente atrás de si da maneira que, naquele momento, tinha a família do seu amigo mais sincero atrás de si…”, “Com dezasseis anos, não imaginava todo o tempo que teria de viver sem o pai, não imaginava que haveria um período imenso da vida em que seria obrigado a viver com a ideia de nunca mais ter um pai…”

A figura paternal passou a ser representada por um tio: o tio Joaquim. Foi ele que lhe abriu as portas para o mundo e negócio do café e tornou-se para ele um pai, padrinho, patrão.

O almoço de domingo foi efectivamente celebrado, não só em todos os domingos, mas naquele domingo da festa dos 90 anos do senhor Rui. No seguimento do almoço seguiram-se festejos e apresentações dos feitos do senhor comendador, como ele é conhecido na vila de Campo Maior, realizadas por crianças, pelas gerações mais novas: “Depois dessa coreografia, espécie de ginástica, escutou-se a voz de um menino a ler com boa entoação, contava a história do senhor Rui, também ele menino, em Campo Maior, nos anos trinta do século XX…O senhor Rui achou engraçado que fosse necessário explicitar o século…” De facto, “todas aquelas crianças desconheciam esse século!”

A história dele desenrola-se com muito pormenor como conversa em que cereja puxa cereja e vão-se desenhando tempos e espaços: tempos de fascismo, tempos de enterro desse fascismo, tempos de pobreza e é de realçar o facto de este senhor ser padrinho de tanta gente e patrão de tantos outros, a quem deu emprego, muitas vezes, para responder às suas necessidades básicas e prementes.

Como voluntária da Atlas, no projecto Velhos Amigos, orgulho-me de fazer chegar aos beneficiários o almoço de sábado. Infelizmente, não é uma refeição que os beneficiários partilhem com amigos e familiares, mas pelo menos, enquanto nos recebem, também eles têm um pouco a possibilidade de viajar através das suas pequenas memórias e de as partilharem connosco. É a nossa forma de lhes proporcionar “um almoço de Domingo” e de partilhar momentos com eles.

Almoço de Domingo
José Luís Peixoto

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Quando o “Não” é para banir

Por incrível que pareça aos oitenta e quatro anos fui convidada para fazer parte de um projeto que me era totalmente desconhecido e em tudo diferente daquilo a que estava habituada. 

Aceitei porque quase bani do meu vocabulário a palavra «não».

Acho-a uma palavra demasiado forte e só a uso em situações extremas. Prefiro substituí-la por um sorriso.

Devo dizer que não fazia ideia do que me esperava. Aceitei e gostei. Foi aí, nesse projeto, que tive verdadeira consciência de que é: no dar que se recebe e que se recebe sempre mais do que aquilo que se dá. 

Eu saía para ir fazer companhia a quem estava só, mas verdade é que eu também beneficiava dessa companhia. Entretanto surgiu a pandemia, diminuíram as visitas, foram aparecendo elementos novos e cessei as minhas atividades.

De qualquer modo continuo na retaguarda pronta para o que seja preciso dentro das minhas possibilidades e capacidades.

Conheci pessoas maravilhosas, além das que já conhecia, tanto utentes como cuidadoras, que muito admiro e que vieram aumentar o meu grupo de amigos.

Recordo aqui alguns encontros que ficaram para sempre na memória. Bem-haja a todas e a todos. Um abraço de profundo reconhecimento. Convosco fiquei mais rica. 


Autora
Maria Fernanda Alegre
Voluntária do Projeto Velhos Amigos, nasceu a 6 de julho de 1933, no concelho de Condeixa a Nova. Fez o curso no magistério primário. Depois de se reformar, tem-se dedicado ao voluntariado.

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Projetos de Vida Sénior

A reforma é o merecido descanso de uma vida de trabalho, de correrias, de preocupações.


Há aquele alívio de que vamos finalmente descansar. Assim sendo, parece ser realmente o ideal, talvez durante uns tempos.
No entanto, quando a inércia toma conta de nós, tudo começa a ficar mais complicado. Não há rotinas, não há horários, não há a conversa habitual com as amigas e tudo se torna mais monótono. Há que arranjar algo que nos ocupe de novo, mas agora sem pressas nem compromissos rigorosos.
Depois de algumas pesquisas, encontrei a Projetos de Vida Sénior, fui ver do que se tratava, gostei e inscrevi-me.
Tudo mudou! Passou a haver de novo tempo para tudo, senti-me de novo ativa. Convivemos, aprendemos, fazemos exercício físico e mental, fazemos visitas temáticas e passeios pelo país e até pelo estrangeiro. Fiz novos amigos e reencontrei outros com quem há muito não convivia. De realçar ainda os extraordinários professores que dão o seu tempo e partilham o seu saber voluntariamente, dando-nos também muito da sua simpatia e amizade.

Projectos de Vida Sénior é uma Universidade Sénior da Marinha Grande, um projecto de aprendizagem informal dirigido a maiores de 50 anos. Saibe mais aqui.


A “Universidade Sénior” foi verdadeiramente algo de bom que me aconteceu. Foram três anos maravilhosos que me enriqueceram a todos os níveis.


Digo três anos porque ganhei, finalmente, o estatuto de avó! Esta era a etapa que faltava na minha vida e eu queria desfruta-la ao máximo.
Ponderei e evidentemente optei por ajudar a criar o meu neto. Interrompi então a minha passagem pela a Universidade, convicta de que iria voltar. Não foi possível, até à data, porque voltei, de novo, a ser avó.
Mantenho, no entanto, a esperança de voltar porque não há prazo para aprender e para ser feliz.


Autora
Cidália Carvalheiro
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande. Natural de Viseu, tem 71 anos, é casada há 50 anos, tem dois filhos e dois netos.

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A senhora que folheava revistas de moda

Uma senhora, de idade avançada, veterana na vida, ocupava uma cadeira num recanto de um cabeleireiro. Parecia esquecida como um candeeiro baço ou como a própria cadeira que ocupava, como se não tivesse vida. E ela que tinha tanta! Ao seu lado, no chão, repousava a sua bengala, a sua perna mais nova, mais firme, que lhe permitia o apoio nos movimentos.

O seu cabelo de neve escorregava por baixo de um barrete preto, que tapava o frio e os fios finos. Também tapava a vaidade que, a partir de certa idade, passa a ser uma raridade. A sua cara riscada de linhas exibia uma cor clara, porém manchada aqui e acolá. A sua silhueta pesava para a sua idade, por isso o recurso à bengala e à cadeira. Os seus olhos, tapados por umas cortinas espessas espelhavam doçura e apenas deitavam brilho.

Depois de pegar na sua bengala e de a encostar junto a si, fixou os olhos numa revista colorida. Quis entreter-se. Queria ver que fotografias mostrava do mundo. Pegou nela, com a sua mão já um pouco trémula, e começou a fazer passar as páginas pelos dedos. As caras eram todas lisas e cobertas de cores diversas para realçar os olhos e os lábios. Havia cabelos que deslizavam, outros que saltitavam e ainda outros armados em trabalhos elaborados.

As roupas eram vistosas e coloridas e deixavam adivinhar silhuetas todas magras, firmes e jovens.

Folheou a revista até ao fim e depois apenas disse:

– “Isto é só para os novos!”

E era. Também a revista parecia esquecer-se dela com aquela idolatria toda ao corpo jovem, modelado. E as outras revistas pareciam ser todas iguais. Não havia nenhuma que apresentasse silhuetas mais frágeis e mais volumosas. Não se vislumbrava qualquer sinal de cabelos brancos e finos. Nenhuma procurava embelezar uma cara riscada de rugas. Nenhuma sequer procuraria retratar um sorriso verdadeiro, daqueles que só vêm das pessoas que só se riem quando querem.

Depois de proclamar a sua crítica, atirou a revista para dentro do cesto (de onde tinha saído) e continuou na sua cadeira. Sentada. À espera.

Ninguém ligou. Ninguém ouviu. Continuou tudo na mesma. O secador continuou a alisar cabelos com a ajuda das escovas e as conversas acompanhavam a imagem que ia aparecendo no espelho.


Autora
Celina da Costa Gameiro
Residente em S. Simão de Litém, concelho de Pombal. Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC. Ouvinte e observadora. Voluntária na Atlas, no projeto Velhos Amigos.

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