A máquina de costura da minha avó Emília, daquelas antigas (preta, de ferro, com letras douradas) faz parte da mobília da minha casa, contrasta com o papel de parede moderno. Desde a década de 40 que esta máquina trabalhou, nas mãos da minha avó. Depois também a minha mãe a usou e em seguida as minhas tias. Quantas histórias guarda aquela gavetinha das linhas e das tesouras?
Lembro-me, com carinho,
da minha avó costureira, que me ensinou a pregar botões e pedia a minha ajuda para enfiar a linha no buraco da agulha, enquanto trocava os óculos “de ver ao longe” pelos de “ver ao perto”;
da minha avó cozinheira, que punha o arroz branco no prato, em forma de montanha, e no cume, os bocadinhos de bife, já cortados, enquanto o avô perguntava se para ele também seria assim;
da minha avó camponesa, que cavava a terra com a sua enxada e para mim arranjou um sachinho para plantar as minhas batatas;
da minha avó vendedeira, no mercado, que pesava as suas frutas… e eu quantos pesos valia? E logo ela me respondia;
da minha avó lavadeira, a lavar roupa no tanque do pátio, enquanto eu esperava pela hora de tirar a tampa e ver a água a escorrer;
da minha avó criadora de animais, que me pegava ao colo para entrarmos no galinheiro, porque tinha medo de ser bicada pelo galo;
da minha avó companheira de conversa e riso, à noite, enquanto o avô pedia para estarmos em silêncio;
da minha avó reservada, que, quando dormia comigo, vestia a “combinação” só depois da luz apagada;
da minha avó atarefada, mas cuidadora, que sempre que ouvia “Ó avóóóó” respondia “Uuuuuuu”, para eu saber onde a procurar.
No dia 26 de julho celebrou-se o Dia dos Avós. Na minha infância não havia este dia, era nas nossas brincadeiras e afazeres que nos celebrávamos!
No frenesim das nossas vidas são importantes as gerações mais velhas, com alma cheia de experiência de vida e corpo que lhes pede serenidade, podem ser âncoras que nos dão estrutura e confiança para o futuro.
Autora:
Sofia Carruço
Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria
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