Inicialmente apenas reconhecida como doença respiratória aguda, a COVID-19 rapidamente provou ser muito mais ampla, afetando vários sistemas de órgãos. A COVID-19 causou inúmeras mortes, mas também deixou um enorme número de sobreviventes onde foi possível observar que a apresentação da doença não é apenas aguda.
“Long Covid”
O termo “Long Covid” tem sido usado para descrever a persistência dos sintomas para além das 4 semanas nos pacientes diagnosticados com Sars-Cov-2.
Os principais sintomas que persistem são falta de ar, tosse, fadiga, dor torácica, síndromes ortostáticas, palpitações, entre outros.
Segundo a própria OMS, aproximadamente 10% de todos os pacientes com teste positivo para COVID-19 mantém sintomas por um período de 12 semanas ou mais.
Fatores de risco para o desenvolvimento de Long COVID 19
Sintomas de maior gravidade de infeção SARS COVID-19, idade avançada e a presença de comorbilidades são fatores de risco para o desenvolvimento de Long Covid.
Fadiga persistente
Um dos sintomas persistentes que mais ocorre após a COVID-19 é a fadiga. Um estudo britânico, que acompanhou durante 54 dias pacientes após a alta hospitalar de internamento por COVID-19, relevou que 69% dos pacientes mantinha queixas de fadiga. Tratam-se de números significativos que levam a uma diminuição significativa da produtividade e da qualidade de vida
Disautonomia
A disautonomia define-se como uma disfunção do sistema nervoso autonómico que provoca sintomas tais como a queda da tensão arterial com a mudança de posição e a taquicardia em ortostatismo. É uma das alterações de curso crónica mais frequentemente observada após a infeção por COVID-19, contudo o seu mecanismo ainda não se encontra definido.
Alterações psicológicas e cognitivas
O impacto sanitário, económico, político e social da pandemia da COVID-19 trouxe, por si só, uma parcela significativa de problemas do foro psicológico, tais como, depressão e ansiedade. Para além disso, vários estudos demonstram diminuição da capacidade cognitiva nos casos mais graves de infeção.
Abordagem
Devido à ampla variedade de manifestações, o Long Covid deve ser abordado de forma holística e multidisciplinar, podendo ser necessário, para além da abordagem médica, o envolvimento de terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, psicológicos, entre outros.
Pacientes com fadiga persistente, devem fazer exercício físico de baixa intensidade, como caminhadas, seguido de um aumento lento e gradual da intensidade, de forma a que retornem lentamente ao patamar anterior à doença ou ao melhor estado possível.
Nos pacientes com disautonomia, exercícios não ortostáticos, como ciclismo e natação, devem ser recomendados. É essencial garantir uma ingestão hídrica adequada para manutenção da volemia e a evicção de refeições muito copiosas. Devem evitar ficar de pé por longos períodos e evitar mudanças bruscas de posição (decúbito-ortostatismo). Meias compressivas e elevação de membros inferiores são boas soluções para melhorar o retorno venoso. Nos casos refratários poderá ser necessário recorrer a medidas farmacológicas.
Pacientes com anosmia ou diminuição do olfato devem fazer treino olfativo, no qual experienciam diariamente odores puros diferentes, como é o caso do café e do limão, de modo a estimular o retorno da capacidade olfativa.
Em suma, o curso agudo da COVID-19 trouxe e ainda traz um enorme impacto tanto na população em geral como nos serviços de saúde. No entanto, a recuperação da fase aguda da doença nem sempre significa o fim das suas repercussões sendo por isso essencial acompanhar bem de perto todos estes doentes e reconhecer os sintomas do Long Covid.
Autora:
Carolina Reis Penedo
Tem 27 anos. Fez o mestrado em Medicina na Universidade de Lisboa que terminou em 2020. Trabalhou 1 ano no Hospital de Leiria. Atualmente frequenta o internato médico da especialidade de Medicina Geral e Familiar na USF São Julião de Oeiras em Lisboa. É voluntária no projeto Velhos Amigos desde 2021.
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