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Cuidados de alimentação para a pessoa idosa


O aumento da longevidade representa uma das maiores marcas do progresso científico e da melhoria das condições de saúde dos últimos anos. Contudo, sabe-se, hoje, que o envelhecimento conduz a um declínio geral nas funções vitais do indivíduo que, consoante o grau de perda, pode limitá-lo na realização autónoma de atividades de vida diária.

Particularmente no que respeita à alimentação, decorrem do envelhecimento inúmeras alterações estruturais e sensoriomotoras que afetam a segurança e a eficácia da deglutição (= ato de engolir), designando-se por presbifagia. Esta, em concomitância com uma ou mais doenças, pode conduzir a sintomas mais graves que dificultem ou impossibilitem a passagem segura do alimento até ao esófago, passando a designar-se disfagia orofaríngea. Entre as principais consequências da disfagia orofaríngea encontram-se a desidratação, a perda de peso, o impacto psicossocial negativo, a pneumonia de aspiração e a asfixia.

O ser humano deglute aproximadamente 600 vezes por dia e, em condições normais, a deglutição é um mecanismo que exige pouco esforço, por isso, a complexidade do seu mecanismo pode passar despercebida. Contudo, à medida que envelhecemos, este processo torna-se mais lento e menos eficaz, devido à perda de dentes, à diminuição da força muscular da língua, à perda de sensibilidade da boca e faringe e à diminuição da velocidade de resposta dos músculos.

Assim, com o passar dos anos e o acumular das alterações, cada pessoa vai fazendo, quase sem se aperceber, as suas próprias adaptações, de forma a tornar a alimentação mais fácil e segura (p.e. cozinhando melhor determinados alimentos e evitando outros).

Alguns cuidados gerais que devemos ter em consideração são:

– evitar comer rápido;

– alimentar-se com uma postura correta, mantendo o tronco a 90°;

– optar por alimentos mais macios (bem cozinhados), ligeiramente húmidos e de pequenas dimensões;

– e alternar consistências (entre líquida e sólida), de forma a limpar possíveis resíduos de alimento que fiquem acumulados na orofaringe depois de engolir.

Por outro lado, assinalam-se alguns alimentos com os quais devemos ter especial cuidado:

– alimentos com duas consistências (líquida e sólida), como canja, citrinos e outros frutos sumarentos;

– alimentos muito secos ou duros (p.e. frutos secos);

– alimentos viscosos ou aderentes (p.e. puré de batata);

– alimentos com casca aderente (p.e. leguminosas);

– e alimentos em pedaços de grandes dimensões.

Estes alimentos necessitam de melhor capacidade de resposta sensorial e motora para serem deglutidos de forma segura e, por isso, podem colocar a pessoa idosa em risco de engasgamento.

Alguns sinais de alerta para o risco de engasgamento ou asfixia são:

– tosse;

– voz alterada após engolir os alimentos;

– dificuldade em respirar;

– diminuição da SpO2;

– e sinais de desconforto ou stress durante a alimentação.

Assim, apesar de ser possível envelhecer sem experimentar dificuldades graves na deglutição, devemos estar atentos aos sinais de alerta referidos, que nos indicam a necessidade de avaliação médica e, possivelmente, de reabilitação desta função vital.

Autora
Joana santos

Terapeuta da Fala, com mestrado na mesma área e especializações em perturbações neurológicas no adulto, ao nível da comunicação e da deglutição. Atualmente, exerce a sua profissão no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Universidade de Coimbra e é estudante do curso de doutoramento em Gerontologia e Geriatria da Universidade de Aveiro e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

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