“Uma leitura, uma partilha de opinião” é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!
De nada na mão
Comentário de Celina Gameiro
Residente em S. Simão de Litém, concelho de Pombal. Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC. Ouvinte e observadora. Voluntária na Atlas, no projeto Velhos Amigos.
Isabel Allende, autora de inúmeros romances, é uma emigrante chilena, residente na Califórnia, nos Estados Unidos da América. A influência que o seu país de origem teve nela e a referência ao mesmo aparecem na maior parte das suas obras.
O meu país inventado é uma viagem por esse país de muitos contrastes e nessa viagem conseguimos cheirar e saborear a nostalgia e o amor à pátria que qualquer emigrante carrega na sua mala.
Logo no início a autora fala-nos dos contrastes geográficos do Chile: as florestas densas do sul regadas com chuvas torrenciais (que muitas vezes cobrem as povoações nas redondezas e que têm vindo a ser ameaçadas pelas indústrias madeireiras), as serras nevadas da Cordilheira dos Andes (que fazem o Chile voltar as costas ao continente latino-americano), o pacífico adormecido (que banha o país e lhe lava a cara) e no norte o deserto de Atacama que ataca ferozmente quem quer que se aventure a atravessá-lo.
Isabel atravessou-o na primeira vez que saiu do Chile em direção à Bolívia. Vencia a sede a chupar laranjas e a beber água por galões. Fiquei a saber que o Chile possui um troço do continente antártico “um mundo de gelo e solidão… onde nascem as fábulas e perecem os homens”. A ilha da Páscoa também pertence ao Chile, chama-se Rapanui em pascoense. Assim como a ilha de Juan Fernández, onde foi abandonado um marinheiro escocês que sobreviveu na ilha, que acabou por motivar a história de Daniel Defoe ”Robinson Crusoe”.
Quando se emigra, ou quando se sai do país durante algum tempo, o que nos vem à ideia é a comida: os sabores e as lembranças associadas aos sabores, seja a presença da família ou a piadola chanfrada de algum amigo.
Isabel fala-nos com algum detalhe de alguns pratos típicos chilenos: o manjar-branco ou doce de leite (parecido com o nosso arroz-doce, só que sem arroz), as empanadas (pastéis de carne e cebola), a cazuela (uma sopa de carne, milho, batata e legumes) e chupe de mariscos (um guisado aromático de mariscos). Quantos portugueses levaram na mala o famoso bacalhau, ou algum chouriço?
Houve um acontecimento que levou a autora a fazer as malas, de vez, do seu país de origem. Foi o Golpe Militar a 11 de setembro de 1973 liderando pelo general Augusto Pinochet. Foi um acontecimento de natureza política que fez mergulhar o país numa ditadura militar durante 17 anos. Isabel que era prima do anterior governante, Salvador Allende, teve de fugir para não ser perseguida ou sofrer represálias do governo. Mas como há males que vêm por bem ganhou a distância necessária para se tornar escritora, para se corresponder com o seu avô Agustín, o seu comparsa, com quem viveu na infância, e para encontrar aquele que viria a ser o seu companheiro na Califórnia: Willie.
O meu país inventado
de Isabel Allende
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