Podia ter acontecido comigo, podia ter acontecido com qualquer um de nós. Um simples clique põe-nos em contacto com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, com um bom amigo ou com um cafajeste.
Foi com um simples clique que aceitou um amigo no Face. Não conhecia, mas como recusar a amizade de alguém que pode estar a precisar de «colo» como de pão para a boca? Foram-se conhecendo(?). Passaram alguns momentos de entretenimento, de conversa. Uma simples amizade porque ela nunca permitiu que fosse mais além.
Não demorou muito tempo. Um mês? Talvez! Ou nem tanto. Troca de hábitos, de gostos na comida, na música, passatempos preferidos. Havia perguntas que ficavam sem resposta, mas tudo bem. As coisas estavam ao nível de uma mútua amizade.
Até que um dia as mensagens começaram a ter um não sei quê de misterioso. «Não queria magoar, mas tinha uma declaração a fazer». Ela, sempre na defensiva, abriu o jogo. Para seu espanto, todo aquele tempo esteve a trocar mensagens com uma pessoa que não existia. Era apenas uma personagem falsa. Não era a pessoa da foto, não tinha o emprego que dizia ter, nem a idade…
Mas a verdadeira pessoa decidiu desmascarar-se. Fiquei com a ideia de que estava a ser manipulado. Pediu desculpa, teve medo de me magoar.
Mostrou uma humildade impressionante, pediu ajuda, quis continuar a ser visto como amigo. E deixou um aviso que pode servir para todos nós e que me levou a escrever este artigo: Nunca envie dinheiro pela Internet para ninguém nem mesmo para mim. E nunca aceite amizade de quem não conheça! Achei isto de uma dignidade, de uma honestidade de heroísmo!
Volto ao princípio e revejo as mensagens. Em quase todas, se não todas, pergunta-me o que era o meu almoço ou o meu jantar, consoante a hora. Eu não valorizava: Umas vezes respondia, outras omitia, outras inventava. Era conversa de quem não tinha mais que dizer.
Mas hoje aquelas perguntas têm um novo sentido. Não haveria ali fome? Porquê aquela obsessão pela comida? Como pago as minhas contas? Não haverá ali falta de dinheiro? Quantas carências provavelmente até falta de afeto! Mas eu não sei como ajudar, parte-se-me o coração, mas vou ter que ser egoísta. Vou seguir o conselho de um jovem que tem idade para ser meu neto. Vou reaprender a dizer não e pôr sempre a razão à frente do coração. Mas não conseguia arrumar o assunto na minha cabeça.
Surgiram-me alguns medos e bloqueei as mensagens. Julgava ter, assim, posto um ponto final no assunto, mas qual não é o meu espanto quando passados alguns dias recebo uma mensagem no google onde mostrava uma certa mágoa por eu ter bloqueado o Messenger, mas preocupado por achar que me tinha magoado.
É uma mistura de sentimentos (pena, medo).
Respondi reafirmando que não gostava de estar a falar com uma pessoa que não correspondia à foto e temendo, não por ele, mas por quem porventura estivesse na retaguarda.
Já perceberam que o que aconteceu foi mesmo comigo, mas foi sem dúvida, uma lição para a vida
Autora
Maria Fernanda Alegre
Nasceu a 6 de julho de 1933, no concelho de Condeixa a Nova. Fez o curso no magistério primário. É viúva, tem 3 filhos e 2 netos. Depois de se reformar, tem-se dedicado ao voluntariado
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Elizabeth Guerra diz
Setembro 6, 2021 em6:33 pmObrigado pela partilha Maria Fernanda. Um alerta para todos.
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