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Gestão da Medicação no Domicílio


Supervisão do regime terapêutico no domicílio – Capacitar para o Auto-Cuidado

No contexto de envelhecimento da população portuguesa e consequentemente o aumento da longevidade, o envelhecimento é, atualmente, uma área com particular interesse na sociedade, sobretudo pela importância que este fenómeno e processo tem no plano dos cuidados de saúde, bem como no âmbito social, económico, político e cultural. A prevalência de doenças crónicas, degenerativas e a presença de comorbilidades, contribuem para o elevado consumo de medicamentos por parte da população mais velha.

Estima-se que, em média cada idoso toma 7 medicamentos por dia e a polimedicação e a adesão incorreta é responsável, em grande medida, no aumento dos reinternamentos nesta faixa etária. A polifarmácia (uso de cinco ou mais medicamentos), é um problema de saúde muito grave nestes grupos etários, dado que está associada a um maior risco de iatrogenias (reações adversas), quedas, delírio, incontinência urinária, desnutrição e dificuldades na adesão do tratamento prescrito.

50% dos cidadãos sujeitos a terapêutica crónica, não toma corretamente a sua medicação.

Organização Mundial de Saúde

No decorrer do processo de envelhecimento, o individuo confronta-se com alterações de diferente natureza e encontra-se exposto a inúmeros fatores que condicionam a sua capacidade para gerir de forma adequada e segura o seu regime terapêutico, comprometendo inevitavelmente a sua eficácia.

A complexidade dos esquemas terapêuticos, as alterações do aspeto das embalagens, as limitações físicas ou a falta de acompanhamento diário, podem ser a causa para as várias falhas e erros na administração correta e segura da medicação.

Este aumento do número de medicamentos e a gestão do regime medicamentoso no domicílio, torna-se uma tarefa bastante complexa. Uma tarefa diária que parece simples e que todos o fazem de uma forma natural, mas um simples erro na administração pode comprometer o tratamento prescrito e, como consequência, provocar impactos negativos na saúde. Por sua vez, esta associa-se a um aumento de reinternamentos, maior custo financeiro associado à má gestão da medicação, desperdício de medicamentos, diminuição da eficácia do tratamento e controlo sintomático e consequente, diminuição da qualidade de vida e bem-estar.

Um simples erro pode comprometer todo o tratamento!

É no seguimento das visitas domiciliárias, que facilmente verifico que a gestão da medicação é uma área das atividades de vida diária, que merece maior atenção e acompanhamento diário por um profissional.

Inicialmente, é realizada uma avaliação gerontológica multidimensional, onde procuro detetar os comportamentos de risco e aconselhar o que fazer, como fazer e onde fazer, nas várias dimensões da vida, nomeadamente, na área da saúde geral, capacidade funcional, cognitiva, afetiva/emocional, ambiental, social e económica.

Esta avaliação permite encontrar soluções para melhorar o dia a dia dos meus clientes, permitindo uma resposta mais completa e adequada face à situação apresentada – “Quem apoia, organiza e prepara a toma da medicação? Quem garante que a medicação é tomada na dose, hora e forma correta? Quem garante que não há nenhum medicamento em falta? Quem supervisiona se os medicamentos estão a ser bem acondicionados?”.

Através destas questões, é possível verificar quem gere a terapêutica de cada cliente, de forma a poder traçar um plano individual de cuidados personalizado, específico e adaptado às necessidades, interesses e expetativas do quotidiano do idoso e sua família.  

É importante:

  • Assegurar a efetiva gestão do risco e otimização da polimedicação;

  • Supervisionar, efetuar a gestão e ou administração de medicação, sob orientação do médico assistente;

  • Registar e monitorizar os sinais vitais, numa folha personalizada para cada idoso e família, de forma a controlar os valores e situação clínica ao longo do tempo;

  • Efetuar a marcação e/ ou acompanhar a consultas de especialidade, exames ou rastreios;

  • Coordenar os diferentes serviços, antecipar futuras necessidades e implementar soluções inovadoras.

A frequência das visitas domiciliárias são realizadas de acordo com as necessidades individuais e familiares, de forma a garantir a gestão e a adesão terapêutica e a articulação com o médico e/ou enfermeira de família, bem como com a farmácia de referência, sempre que seja necessário.

Este acompanhamento realizado por um profissional de Gerontologia, no domicílio, é fundamental e é indicado para todos aqueles que:

  1. Gerem sozinhos a sua terapêutica e que apresentem história de má gestão terapêutica, mesmo que ainda mantenham a sua autonomia preservada;
  2. Se esquecem ou ficam na dúvida se já tomaram o comprimido, pessoas com limitações físicas, que se encontram dependentes de um cuidador ou familiar;
  3. Tem esquemas terapêuticos complexos: com a toma de diversos medicamentos ao longo do dia.

A preparação individualizada da medicação, surge como um método eficaz e transmite segurança não só à pessoa que usufrui do serviço, bem como todos os cuidadores ou familiares, que por diversas razões não conseguem assegurar o acompanhamento e supervisão diária dos seus familiares.

O gerontólogo é aquele que, por via das várias competências e formação que detém, saberá determinar que profissionais mobilizar, quando, em que condições, dinamizando a teia de relações que possibilita à pessoa idosa e sua família ver a sua situação otimizada e solucionada, com a maior brevidade possível.

Exemplo de um plano de medicação que pode ser facultado por um gerontólogo.

Deste modo, torna-se fundamental assegurar uma gestão correta do regime terapêutico, através da figura de gestor de caso, de forma a capacitar e aumentar a literacia em saúde, focando a importância para a educação para o auto-cuidado das pessoas mais velhas.

Esta estratégia de saúde tem como finalidade, através do controlo da medicação, aumentar os ganhos em saúde bem como contribuir para reduzir os gastos na saúde, procurando maximizar a qualidade de vida.

Ao acompanhar e promover a adesão ao regime terapêutico, os profissionais procuram compreender o que limita o processo de gestão da doença crónica nomeadamente pela identificação de fatores que a comprometem e através da implementação de intervenções eficazes que facilitem a incorporação de novos hábitos e novas formas de viver. Esta será, certamente, uma área de futuro, encontrando-se o gerontólogo numa posição privilegiada para desenvolver ações que possam contribuir para uma melhoria da qualidade de vida das pessoas mais velhas, no conforto da sua casa.

Carolina Antunes
Geróntologa. Voluntária do Atlas, em Coimbra. Membro da Direção da Associação Nacional de Gerontólogos

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